Em agradecimento ao convite para postar no OrtoBlog pedi ao Neto Miná que assim como eu é um entusiasta no SUS e nem se formou ainda escrever um texto para o nosso lindo blog rosa. Me caiu os butiá do bolso quando abri o arquivo em anexo no meu e-mail, vale muuuuuito a leitura!

Espero que entusiastas do SUS, dentistas ou apenas como cidadãos brasileiros todos façam essa reflexão. O texto tá ótimo!!!

#goDIVAS! GO!

“Antes de mais nada, as apresentações: Sou Neto Miná, acadêmico do 6º semestre de odontologia na Universidade Paulista – UNIP em São Paulo. OdontoDivo número #3 (pra escrever no odontodivas, tem que ser odontodivo – Pré-requisito) e colaborador do Ortoblog do Leo Augusto. Vez ou outra, faço intercâmbio nos blogs dos amigos. Aproveitando a deixa: muito obrigado pelo convite Marjo.

Assim como a diva do SUS, sou apaixonado por Saúde Coletiva e Odontopediatria, acho linda a forma como essas duas áreas podem se unir, contribuindo na elaboração de estratégias em comunidades. Porém, terei que deixar a promoção de saúde de lado para realizar um desabafo. Contarei uma pequena história, a história de uma “CIDADE QUALQUER”, que pode ser comparada com a realidade de muitas cidades Brasil a fora.

Essa cidade tem alguns mil habitantes, possui em seu serviço publico Centro de Especialidades Odontológicas (CEOs), Laboratórios de Prótese, além de diversos dentistas trabalhando nos PSFs espalhados pela cidade e pela zona rural também. Apresenta programas preventivos com escolares, programa de fluoretação de água, enfim, uma cidade comum, com planejamentos em saúde bucal semelhantes a qualquer cidade bem estruturada. O atendimento ocorre efetivamente, os populares ficam felizes e vivem na mais absoluta harmonia.

Como toda boa História, essa também possui um conflito:

Essa cidade conta com alguns investimentos para manter seus atendimentos:
1- Verba destinada ao CEO (Governo Federal)
2- Verba destinada a confecção de Próteses Dentárias (Governo Federal)
3- Verba destinada ao pagamento de funcionários e compra de materiais. (Prefeitura – Secretaria de Saúde)

Com o passar do tempo os dentistas que trabalhavam nos PSFs começaram a reclamar: faltava material para atender os pacientes e o salário estava atrasado. Um problema simples, e que pode ser resolvido:

Como os custos de fabricação das próteses são pequenos (quando comparados aos de manutenção de um CEO) e são destinados 100 reais para cada prótese produzida, pode-se utilizar o “lucro” obtido na confecção das próteses para pagar os dentistas. Infelizmente, só essa verba não é suficiente, mas como falta material também nos CEOS e os atendimentos estão paralizados, pode-se utilizar a verba destinada para manutenção e realizar o pagamento dos dentistas e demais funcionários.

Ufa! Problema solucionado, ou não…

Resultado: CEO e PSFs sem condições de atender a população e , com o tempo, faltam recursos para produção de próteses. Os dentistas, apesar de pagos, param de trabalhar, apenas alguns poucos dentistas realizam alguns trabalhos preventivos nas comunidades onde atuam.

Tudo segue na mais absoluta paz na cidade, profissionais pagos, população desassistida e tudo no mais pacato conformismo.

Eis que os comentários chegam a nível federal, é realizada uma vistoria na cidade.
Resultado 2: As verbas do CEO e do Laboratório de Próteses são cortadas. Além da falta de atendimento, não há como pagar os dentistas e aqueles poucos dentistas que trabalhavam com ações preventivas, deixam de trabalhar.

Moral da História:

Esse é o reflexo da falta de atendimento em Saúde Bucal em diversos municípios em nosso país. Apesar das mudanças ocorridas no Atendimento em Saúde Bucal, dos recursos implantados no país, o atendimento público ainda depende da boa vontade de prefeitos, secretários, vereadores e companhia limitada.

Outro problema enfrentado no atendimento público são profissionais que não apresentam perfil para trabalhar em serviço publico, que estão limitados as ações individualizadas da odontologia (direcionadas a um paciente especifico) e esquecem que podem trabalhar a odontologia em coletividade. Esquecem que, mesmo sem recurso para realizar ações curativas, eles podem trabalhar como promotor de saúde na comunidade que ele atua, como a Marjo falou brilhantemente em um post especial para o ortoblog sobre O Papel do Dentista nas Estratégias de Saúde da Família.

Muitas vezes temos uma visão muito limitada do que é o atendimento publico no Brasil, é comum vermos discursos inflamados sobre: “O Brasil é um país de desdentados”, “Não existe politicas públicas para Saúde Bucal”, “Só se fala em saúde Bucal, quando politico distribui dentadura em ano de eleição”. Não é bem por aí.
Existem politicas públicas em Saúde Bucal, recursos estão sendo implantados em diversas áreas da odontologia, desde programas preventivos até os reabilitadores. Ainda existe descaço do poder publico, afinal são muitas esferas politicas, e os interesses pessoais ainda são prioridade para muitos políticos brasileiros. Mas também, existe descaço da população, que além de não desempenhar seu papel social desconhecer e/ou inutiliza seu poder democrático.

Alias, falando em poder democrático, nessa “cidade qualquer” os relatórios das Conferencias Municipais de Saúde desaparecem. Ninguém saber se foi redigido, se foi arquivado ou se foi encaminhado para alguém. Ou seja, até quando algum popular se manifesta e exerce sua cidadania, seu direito é vetado pelos interesses, ou desinteresses, de uma minoria mais hierarquizada, digamos assim.

Enfim, todo essa historinha é pra dizer que o que parece ser algo pequeno, DESCASO NO ACESSO A SAÚDE BUCAL NO SERVISO PÚBLICO DE SAÚDE.

É reflexo de uma sequencia de erros: é um país com dimensões continentais que dificultam uma maior fiscalização, um melhor gerenciamento dos recursos empregados; falamos do individualismo dos políticos, que só defendem seus interesses pessoais e partidários, sem levar em consideração os populares, mas esquecemos que também estamos inseridos nessa sociedade e fechamos os olhos para os problemas que não nos atingem; são as verbas desviadas para ações de maior visibilidade para promover o governo atual. A problemática está em esferas menores, está em mim, está em você, está na formação social do brasileiro.

Esse texto seria um desabafo, e criou um aspecto de convite, um convite à reflexão. Reflita um pouco sobre a cidade onde você mora, será que você conhece o atendimento odontológico no serviço público? Sei que você não faz uso desses serviços, mas está envolvido nessas ações:

1- Você é dentista e trabalha no serviço publico: representante clássico de um cidadão que participa das ações desenvolvidas pelo poder publico. É o serviço publico que paga seu salário, e são suas ações que CONTRIBUEM para o sucesso ou insucesso desse programa.

2- Você é dentista e trabalha no setor privado: você atende uma demanda que procura o serviço privado, não somente porque procuram um serviço de excelência, mas porque foi desassistida pelo poder publico. Tanto em ações preventivas, quanto em ações curativas.

3- Você é um cidadão qualquer, que não trabalha na área odontológica: Você custeia os atendimentos do serviço publico e, muitas vezes, não faz uso desse recurso que vem investindo por tanto tempo.

Pensem um pouco em sua cidade, conheça a realidade dela e posta aqui nos comentários o que vocês descobriram, sua cidade é uma “CIDADE QUALQUER” ou ela tem feito a diferença?

Antes que eu prolongue esse texto, gostaria de agradecer e retribuir o carinho às meninas divas do Blog. Vida longa ao OdontoDivas e Parabéns pelo ótimo trabalho que vocês vêm realizando.

Aproveito para convidá-los para participar dos debates sobre Odontologia e Saúde Coletiva no ortoblog, logo mais sairá um post com um resumo de tudo que foi debatido sobre saúde coletiva entre Junho e Agosto no Blog e em minhas andanças pelos Blogs amigos. Contamos com a participação de vocês.”

E então?? Comentem!!!

#goDIVAS! GO!

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