Segunda-feira, depois de 3 anos e meio  voltou ao PSF um paciente complicado. Ele consultou apenas 5 vezes lá, sendo que comigo foram apenas 3. Legitima criONÇA.

Já tinha voz de homenzinho, não mais a voz de criança. A mãe mandou ele entrar e ficou escondida atrás da porta do consultório, ouvindo tudo nervosa, meio constrangida.

Quando vi a ficha pensei: “Xiii… bem capaz! Hoje sim me cravo a agulha!” O guri era um terror, birrento demais, daqueles que pegam na mão enquanto tu tenta trabalhar!

Lembro que na última vez que tentei atendê-lo, quando fui anestesiar ele agarrou meu braço e eu quase me piquei, mesmo ele tendo concordado com o tratamento. E eu disse pra mãe dele um “Não atendo mais!!!” recheado de indignação, visto o quase acidente. E anotei na ficha clínica a idade dele do lado de cada consulta.

Na última vez ele tinha 11 anos. Considero a mim mesma uma domadora de crionças, mas prefiro as que são menores do que eu. O menino naquela época era aqueles gordinhos grandinhos, logo, beeeeem mais forte do que eu. Não tenho muita paciencia para onças grandes, considero a causa da ferocidade a falta de laço tato que os pais tem com os próprios filhos. As pequenas são sempre mais fáceis de domar.

Vou resumir a evolução clínica dele:

fev/2008: Dor associada à lesão de cárie 36 OV. Paciente não permitiu conduta restauradora. Prescrito analgésico.
abril/2008: Dor dente 36, cárie OVD. Provável envolvimento endodôntico. Não permitiu anestesia, remoção parcial de cárie + curativo. Prescrito antiinflamatório.(9 anos)
setembro/2008:  Abcesso periapical dente 36, lesão extensa de cárie dente 46. Paciente não permitiu conduta. Prescrito antibiótico + analgésico.
abril/2009: Dor dente 36 associada à destruição coronária total e envolvimento periapical. Paciente não permitiu anestesia. Prescrito antibiótico. (10 anos)
julho/2009: Dor associada à remanescentes radiculares do dente 36. Não permitiu conduta.  (11 anos)

E aí a ficha do guri me aparece essa semana, com 13 anos. O que sobrou do dente 36 estava praticamente coberto pela gengiva, doendo claro. Não tinha o que fazer sem um rx. Fiz a solicitação do mesmo, mediquei, mas no exame clínico notei um dente 46 com extensa lesão de cárie. Tive que inticar: “Vem cá, e esse dente, vamos restaurar?”

E o guri se limitou a dizer um “Aham.” com a voz grave de um menino virando homem. Intiquei de novo: “Mas e a anestesia? É preciso, tu vai me deixar fazer?” e eu ouvi de novo um “Aham.” sem muito entusiasmo.

Sem acreditar no que tava acontecendo, firmei a mão e hesitei… pensei que ele iria agarrar o meu pulso novamente, mas não: ELE ME DEIXOU FAZER A ANESTESIA! E nesse momento sinos tocaram e eu ouvi todo o PSF cantar “Aaaaaleluia!!! Aaaaaleluia!!!!”.

E aquele sentimento de tarefa cumprida! Enfim, mais uma criONÇA domada.

#goDIVAS! GO!

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