Fui uma criança acima do peso após a puberdade, e sempre sofri com excesso de peso até os 21 anos, quando depois de muitas dietas e tristeza, decidi pela cirurgia bariátrica. Isso foi em 2003, quando o meu plano começou a operar e só existia a técnica aberta pelo plano (já existia em vídeo, mas eram vários milhares de reais a mais e eu não tive escolha).

Seis meses de preparo psicológico e eu fui operada no dia 07/01/2004. Capella aberta com anel. Foi difícil, bem difícil. Pra quem acha que a cirurgia é o jeito mais fácil, deixa eu contar, NÃO É. Um mês de dieta líquida, mais um de pastosa, muitas dores, gases, drenagens…  uma vida de preparação psicológica, e a consciência que as vitaminas vão te acompanhar pelo resto da vida.

(Adendo: Minha cirurgia foi uma sucesso, não tive nenhuma intercorrência devido à cirurgia nesses quase 13 anos. Não fui ao hospital pra nada, exceto consultas. Vai uma foto de antes e depois da cirurgia. Claro que vai ter gente achando pouco, achando feio. EU fiquei bem feliz.)

Só que a Titia aqui NÃO TOMOU AS VITAMINAS. Por pura irresponsabilidade e preguiça. Aquela sensação adolescente que não vai acontecer com a gente. E vamos às tretas:

  1. Anemia: com uns 5 anos de cirurgia, foi me dando uma falta completa de coragem de sair da cama, fazer minhas atividades, prostrei. Só não parei pois meus pais não entenderam que era doença, me chamavam de preguiçosa o tempo todo, e eu levantava da cama só pra provar que isso eu não sou. Quando eu fiz meu primeiro hemograma, minha ferritina deu 4 (valores de referência 12-16). Fui pra hematologista e ela me passou Noripurum endovenoso. Nessa época tomei 6 frascos. A anemia deu uma trégua e eu segui em frente.
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  2. Libido: desapareceu, sumiu, tomou rumo ignorado. Desnecessário dizer que eu continuo solteira.
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  3. Falta de vitamina B12: a mesma hematologista (Dra. Emanuela, eu te amo) me prescreveu injeções de Citoneurim. Uma por mês durante 3 meses. Foi lindo ver meus hematomas todos desaparecerem com só uma injeção. (É, sou dessas que prefere a injeção. Tomo por 2 minutos e fico um mês sem pensar nisso).
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  4. Insônia: sofro há 5 anos (quase 6) de insônia grave. Se não tomo medicação e nada de sono. Virei 5 noites sem dormir, e eu não tinha condições de ir pro consultório. Sou endodontista. Imaginem a cara dos meus pacientes. Enquanto isso…
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  5. Síncope vasovagal: estava na balada, tomando água sem gás. Tudo bem, tudo lindo, até que eu senti muita fraqueza. APAGUEI. Meu intestino soltou. NO MEIO DA BALADA. Foi o dia mais vergonhoso da minha vida. Aí eu finalmente procurei um neurologista. Esse não achou nada depois de vários exames (graças a Deus), mas eu queria uma segunda opinião. A segunda opinião que me deu o diagnóstico da síncope. Eu reclamei da insônia e ele me deu uma infinidade de medicamentos que não serviram pra nada. Gastei MUITA grana e nada de resolver minha insônia. Inclusive me prescreveu um remédio que normalmente é usado pra curar pira de crackeiro. Me custou um emprego (eu tinha 7, na época).
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  6. Ainda na insônia: procurei alguns outros neurologistas que não foram de grande valia. Quando eu me adaptei com um, ele ficou tão lotado de trabalho que eu levo uma vida pra consultar com ele inclusive no particular (moro no interior, não tenho muitas opções). Estou há mais de 6 meses sem a medicação. Uso meu CRO pra comprar um que ele já me prescreveu, mas a causa da insônia é (ainda) avitaminose severa.
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  7. Síndrome de pica:  (cês deixem de ser 5a série). A síndrome é um transtorno psicológico que faz o paciente ter compulsão em comer certos tipos de “não-alimentos”. Uns 3 anos atrás comecei a ter uma vontade quase incontrolável de comer derivados de farinha (bolos, biscoitos…) isso tudo depois de tomar a medicação pra dormir. Cheguei a ter sonambulismo pra comer de madrugada. Não era vontade, era obsessão. Causou inúmeros transtornos na minha vida pessoal. Acordava com a cama cheia de farinha. Uma amiga também teve, mas no caso dela era Maisena. Ela comprava a caixa, já colocava no freezer e comia o pó gelado, às colheradas. As famílias/amigos/namorados tem MUITA dificuldade em entender que é um transtorno.
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  8. Ganho de peso: é, isso aí. Cheguei a ganhar de volta 36 kg. Com essa dieta toda errada, repondo poucas vitaminas e minerais, claro que inflei feito um baiacu. Ja se foram quase 20 kgs mas ainda é difícil. Agora me trato com um endocrinologista, que me passou alguma medicação, não é moderador de apetite, é pra tratar meu…
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  9. Hiperparatireoidismo: motivo do ganho de peso e da desmineralização dentária. É, 12 anos de Odontologia e tou cheia de manchas brancas. Xerostomia também. Agora é  dieta e exercícios. Voltei ao meu cirurgião, ele pediu uma endoscopia com biópsia pra ver se tinha alguma coisa errada no estômago. Não tem. Tá lindo, igual de livro. Entende-se então que o problema NÃO FOI A CIRURGIA, mas sim o (quase nenhum) cuidado comigo após a bariátrica.
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  10. Vitamina D: preciso nem comentar os níveis. Só digo que agora é um Addera 50000ui (não é barato) de 15 em 15 dias, junto com a deliciosa injeção de citoneurin.
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  11. Acompanhamento psicológico: fundamental, quase tão importante quanto o resto do tratamento. Sabe aquela culpa que geralmente acompanha o obeso? Ela não some da noite pro dia. E quando a gente fica doente ela volta feito um coice de égua. NÃO ABANDONE A TERAPIA.

Nem preciso dizer que a culpa disso tudo FOI MINHA E SOMENTE MINHA. Fui maravilhosamente prescrita, minha equipe interdisciplinar faz o que tem que ser feito pra correr atrás do prejuízo. Prejuízo esse que poderia ter sido evitado se eu tivesse engolido um comprimido de CENTRUM por dia (ou NATELE, ou o que tivesse sido prescrito). Agora é gastar muito dinheiro pra voltar ao normal, e de forma holística e interdisciplinar.

A Cirurgia Bariátrica pra mim foi uma bênção. Era realmente o que eu precisava. Junto com uma dose de maturidade pra entender as consequências. Antes tarde do que nunca.

Se você não passou por redução de estômago, leia atentamente esse caso pra que, eventualmente, você perceba em seus pacientes algum dos sintomas e encaminhe ao profissional competente. Se você se identificou com algum sintoma, PROCURE A EQUIPE MULTIDISCIPLINAR COMPETENTE IMEDIATAMENTE.

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