Ergonomia, para quem não se recorda das aulas da graduação, é a disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema. É também uma profissão que aplica teoria da disciplina e seus princípios, dados e métodos para projetar, a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho geral de um sistema.

Em Odontologia ela é muito falada, pois nós dentistas passamos boa parte do nosso dia em posições desconfortáveis, e que exige muito da nossa coluna. Por esse motivo, especialistas na área desenvolveram “mapas” de como deve ser o consultório ideal para que o dentista consiga realizar seus procedimentos da maneira mais ergonômica possível.

O assunto é sério: como a disposição dos móveis do consultório podem minimizar problemas de saúde e aumentar sua produtividade? Vamos dividir em três tópicos para fácil compreensão.

Ajuste do mocho

A altura do assento deverá permitir que o profissional com variação de estatura de 1,50 m a 1,80 m possa sentar-se corretamente, isto é, com o fêmur paralelo ao solo, o que permitirá que a circulação de retorno (hemodinâmica) se processe naturalmente, sem risco de compressão das safenas, situadas na porção póstero-interna da coxa. O seu encosto deve proporcionar ajustes de altura e profundidade. Em algumas marcas, o mocho não possui encosto, tendo seu assento em forma de sela de cavalo ou até apresenta-se como uma bola de fisioterapia, forçando assim o equilíbrio e a melhoria da postura do profissional.

Posição da cadeira do paciente

Sua forma deve ser reta e simples, permitindo que o paciente seja confortavelmente instalado. Deve permitir posicionamento horizontal do usuário (posição supina). Isto mantém seu corpo totalmente apoiado, facilitando o acesso do dentista ao campo de trabalho. O apoio de cabeça deve ser ajustável, propiciando a visão direta a todos os segmentos da cavidade bucal, seja na mandíbula ou na maxila, na distância correta de visibilidade.

Rio e Rio (2000) sugerem as normas da International Standards Organization e da Federação Dentária Internacional (ISO-FDI) para sistematizar numericamente as posições a serem adotadas pelo cirurgião-dentista e seu auxiliar durante o atendimento odontológico. O esquema funciona como em um mostrador de relógio imaginário colocado sobre a cadeira odontológica, apresentando número 12 do relógio posicionado na cabeça do paciente e o número 6 em seus pés. A área delimitada pelo círculo A é chamada de zona de transferência, onde está a bandeja auxiliar e os instrumentos e pontas de equipo a serem transferidos à boca (campo operatório, bem como os mochos). Este círculo funcional permite aos dois operadores sentados, de modo mais ergonômico e o alcance às ferramentas necessárias à sua atividade, sem imprimir esforço adicional às suas articulações.

Segundo Porto (1994), a posição pode ser determinada com base no posicionamento do profissional em relação a seu paciente. Normalmente, o profissional destro posiciona-se em 7, 9 ou 11 horas e o canhoto em 5, 3 e 1 horas.

Para o dentista destro, ainda conforme Porto (1994), a posição com as costas voltadas para as 7 h e com as pernas paralelas a cadeira é contraindicada por obrigar o dentista a inclinar o corpo para 12 h à direita, causando prejuízos posturais. A posição 9 h é muito adotada por permitir trabalhar em visão direta, mesmo nas regiões de difícil acesso. Nessa posição a perna do dentista fica posicionada sob o encosto da cadeira do paciente e do lado direito do braço da cadeira. Na posição 11 horas, por sua vez, o dentista fica atrás do paciente trabalhando com boa visão indireta, utilizando espelhos, nessa posição a perna esquerda do dentista fica sob o encosto da cadeira.

Para o dentista canhoto a posição muda, assim como a posição dos equipamentos, localizando-se à esquerda da cadeira do paciente. A posição 5 h não é a posição ideal, apresentando os mesmos inconvenientes da posição 7 h, sendo as mais indicadas as posições 3 e 1 h, que correspondem às 9 e 11 h do dentista destro, respectivamente.

Disposição do consultório

A área do círculo A3 é a área de intervenção do profissional, livre de barreiras. A área limitada pelo circulo A2 corresponde à chamada zona de transferência ou espaço ideal de pega, onde tudo que se transfere à boca do paciente deve estar aí situado, como os instrumentos e as pontas do equipo e da unidade auxiliar. Aí devem estar situados os dois mochos para o operador e auxiliar. O circulo A2, de 1m de raio, limita a área útil de trabalho, espaço máximo de pega, que pode ser alcançado com o movimento de esticar o braço. Aí devem estar as mesas auxiliares, o corpo do equipo e da unidade auxiliar e as gavetas quando abertas. O circulo A1 limita a área total do consultório, que não deve ter mais que 3 metros de largura; um consultório com dimensão maior seria antiergonômico. Nessa área ficam as pias e armários fixos.

Recordar alguns conceitos sempre é bom. Reavaliar o quanto prezamos por nossa saúde também reflete nosso cuidado com nossos pacientes. E saber nunca ocupa lugar, certo? Cuide-se. 😉

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PORTO, F. A. O Consultório Odontológico. São Carlos, Scritti, 1994.

RIO, L. M. S. P.? RIO, R. P. Manual de Ergonomia Odontológica. 1ª ed. Belo Horizonte: Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais, 2000.

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