Nunca pensei que fosse dizer isso a um paciente. Mas disse.

Há 2 semanas, compareceu no consultório um paciente do sexo masculino, 29 anos de idade.

O paciente precisa saber a real condição de saúde dele. Só assim, conseguimos motivá-lo.

Ao exame clínico, CAOS: várias lesões de cárie, necessitade de extração de vários dentes, gengiva extremamente inflamada, comprometimentos endodônticos, etc, etc, etc.

Como já dito, na primeira consulta realizo profilaxia com pedra pomes. Questionei ao paciente há quanto tempo ele não ia ao dentista. A resposta foi: “Há muito tempo”. Questionei quantas vezes ele escova os dentes. A resposta: “2 vezes ao dia”. Questionei se ele havia escovado os dentes antes da consulta. A resposta: “SIM”.

PÁRA!

Nesse momento eu parei com a profilaxia, peguei um espelho de mão e o entreguei. No elemento 21, uma camada branca sobre uma lesão de cárie negra. Placa sobre cárie. Removi com sonda exploradora e expliquei pra ele o que era aquela massa branca na superfície do dente.

O paciente se vestia bem. Reparei nas unhas (bem cuidadas), usava um perfume bom, cabelo arrumado. Não conseguia unir a imagem “de fora” com o que eu via nos dentes dele.

O que mais me chateia é a mentira descarada. Lógico que eu entendo que ele tenha ficado com receio de dizer que não escovava. Muitos pacientes agem assim.

Com esse tipo de paciente, a franqueza é a melhor opção. Acredite…

Terminei a profilaxia, fiz uma raspagem inicial para melhorar a condição gengival e confesso que ele sangrou tanto que parecia que eu tinha matado um porco no consultório.

Ao final da consulta, falei: “A sua situação está feia. Você precisa entender que dente é saúde. E eu vou te pedir uma coisa – caso você não esteja afim de melhorar sua saúde bucal, peço a gentileza de não remarcar consulta comigo. Eu não faço milagre sozinha. 95% do sucesso do seu tratamento é consequência dos cuidados que você tem com seus dentes em casa. Os outros 5% eu garanto. Só, por favor, não ocupe horário de paciente que realmente quer melhorar”.

Ele me olhou espantado. Posso não ter sido muito gentil no nosso primeiro encontro, eu sei. Mas ele precisava entender o que acontecia com ele.

Complementei: “Sua gengiva, só de olhar sangra. Essa raspagem que eu fiz hoje é pra você lembrar do antes e depois da sua primeira consulta comigo. Antes, ela sangrava à toa. De hoje em diante, ela vai sangrar menos, até que você a veja boa de verdade.”

Peguei um livro de orientações de higiene, formecido por uma marca de escova dental, fiz todas as orientações por escrito e pedi que ele lesse o manual e trouxesse na próxima consulta os produtos que eu pedi e as dúvidas, anotadas no livrinho, sobre o que ele não havia entendido.

Mais um complemento: “Eu estou aqui pra ajudar você. Mas se você não quiser, não vou me matar.”

O paciente foi embora. Pensei comigo: “Ele não vai voltar”. Isso foi numa segunda-feira. Na sexta, da mesma semana, eis que ele retorna. Com o livro, as dúvidas anotadas e uma sacolinha de farmácia, com todos os produtos que eu pedi que ele comprasse.

Eu fiquei muito feliz! Iniciamos o tratamento pelas extrações (foram 4 no mesmo dia). Já estmos na quarta sessão, e a condição gengival dele já mudou muito! Os dentes, embora com lesões de cárie extensas, já estão mais “limpos”. O hálito melhorou. E ele está muito empolgado com o tratamento. O próximo passo? Uma faceta em resina no 21! Pra ele ver que os meus 5% valem muito pra auto estima dele!

Eu não tenho medo de trabalho! E esse caso, vale meu Diploma.

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