Se você não é dentista, esse texto pode interessar.

A Oral-B trouxe para o Brasil o sistema clareador 3D White/Whitestrips, você com certeza já viu a Gisele Bündchen falando dele (USANDO não, mas deixa pra lá). São tirinhas que contém peróxido de hidrogênio e que prometem dentes mais brancos em 3 dias e um clareamento em “3 dimensões” (seja lá o que isso queira dizer).

Vi alguns colegas se manifestando no Facebook e no Twitter veementemente contra a venda do produto diretamente ao consumidor. Outros, clamando o socorro do CRO, do CFO e do ó do borogodó. Outros, ainda, evocando o CEO (Código de Ética Odontológica) como se ele de alguma forma proibisse esse tipo de produto. Não, não proíbe.

O buraco é mais embaixo.

Como eu disse, essas tirinhas só são novidade no Brasil. Lá nos EUA elas existem há muito tempo e são vendidas sem problema algum (aliás, a Johnson & Johnson também lançou coisa parecida com a marca Listerine, uma fitas dissolvíveis que, me parece, não foram vendidas por aqui). Só que lá a marca é Crest, mas até a embalagem é igual:

Crest e Oral-B Whitestrips: embalagens

O produto é vendido numa boa tanto lá quanto aqui por um motivo simples: ele é considerado cosmético (assim como as pastas de dente). Ou seja, não adianta a gente espernear e exigir que alguma entidade de classe faça alguma coisa a respeito… o máximo que se vai conseguir é uma “nota de repúdio oficial” em alguma publicação da área. E só. Até porque, os Conselhos Regionais e o Conselho Federal de Odontologia (assim como o CEO) são órgãos que servem para fiscalizar a atividade da profissão, e não para questionar a venda de “cosméticos”.

Quando uma empresa multinacional lança um produto num país, esse lançamento é precedido por uma ampla pesquisa de mercado. Vejam o print screen abaixo de uma pergunta do Yahoo! Respostas respondida há 5 anos. A P&G (fabricante) foi atrás de quem entende quando precisou de uma opinião técnica. Eles sabem que o Brasil é um país ávido por estética, procrastinador com relação à saúde e doido pra economizar uma graninha. Sinceramente? Eles acertaram NA MOSCA quando lançaram o produto aqui: ele funciona (porque contém o agente clareador), evita a “inconveniente” ida ao dentista e custa R$ 69,90 (bem mais barato que um clareamento profissional). Tentei procurar pra comprar (porque a ideia inicial era testar em mim mesma) e não achei. Todos os estoques esgotados, isso tá vendendo que nem água no deserto!

Isso há 5 anos!

O que eu acho que muitos colegas não entenderam ainda é que a venda do Oral-B Whitestrips não tem NADA a ver com a gente. Esse é um produto que dispensa o dentista desde a sua concepção. A ideia é vender direto para o paciente e “eliminar o atravessador”, ou seja, eu e você. Na embalagem, é claro, pra ficar bonitinho, está escrito que é indicado o acompanhamento de um dentista. Mas vende no mercado, gente! Pra que dentista? E o fabricante sabe disso.

Kit 3D White/Whitestrips

Pergunto: você, colega, recebeu da Oral-B uma amostra do produto para experimentar? Respondo eu mesma: não. Uma colega me contou que chegou a pedir para uma representante e a mesma informou que esse produto “não tem amostras grátis para dentistas”. Aí, durante as minhas buscas sobre o assunto pelo Google, descobri vários blogueiros de moda / beleza / maquiagem / comportamento etc., formadores de opinião, testando o produto. Cada um deles recebeu 2 embalagens promocionais (uma para si e a outra para sortear entre os leitores do blog). O mimo consiste em uma maleta de acrílico transparente (chiquérrima) contendo os produtos da linha 3D White/Whitestrips e até um pen drive personalizado com informações sobre o produto.

Entenderam o que está acontecendo? Há 5 anos o dentista interessava para atestar que o produto funcionava “satisfatoriamente” mas, neste momento, o dentista não interessa como divulgador do produto, porque o produto serve exatamente para que as pessoas não precisem de um dentista para fazer um clareamento dentário. Num dos blogs que eu visitei, considerando o teor dos comentários, a Oral-B se posicionou da seguinte forma:

“… o 3D Whitestrips já está no mercado dos EUA há mais de 7 anos e a segurança e eficácia do produto foram avaliadas em diversos estudos clínicos que mostraram que os resultados das fitas clareadoras podem ser percebidos já no terceiro dia de uso. Ainda assim, é bom lembrar que o mais importante é ter dentes saudáveis e, por isso, a Oral-B sempre indica o acompanhamento do dentista. Ele é o profissional que vai recomendar os produtos mais indicados para cada pessoa”.

~~Prezados~~ da Procter & Gamble, vocês furaram ozóio dos dentistas. Não me venham com essa demagogia de que “o dentista é o profissional que vai recomendar… blá blá blá”. Vocês lançaram um clareamento dentário que dispensa dentista, assumam isso e preparem-se: o SAC de vocês vai ferver. Espero que o sistema de atendimento já tenha melhorado, os usuários das whitestrips agradecem ;).

A lição que fica é a seguinte: se você busca mesmo a valorização da Odontologia e da profissão de cirurgião-dentista, comece valorizando a si mesmo. As empresas de produtos de higiene bucal (entra aí a Colgate e demais) nos compram baratinho e nos usam como panfleteiros de luxo com suas amostrinhas grátis de pastas e escovas de dente. A gente “vende” os produtos deles quando os recomenda e não recebe nada por isso. E a “recompensa” é essa: na primeira oportunidade, eles se livram de você. De minha parte, há muito tempo não dou amostras e nem recomendo nenhuma marca de produtos de higiene bucal, em específico, aos meus pacientes. Tudo o que recebo uso em mim mesma ou simplesmente desprezo (leia-se “jogo no lixo”). E você, tem feito o quê?

O DicasOdonto falou sobre isso também!

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