Muito comum hoje em dia, as Clínicas Populares procriam nos grandes centros urbanos. Não só restritas às grandes cidades, corrijo. Preços acessíveis e a promessa de resolução dos problemas clínicos do paciente. Até aí, tudo bem! Mas será que, realmente, vale a pena? Darei um relato particular…
Há 2 anos eu iniciei meus atendimentos em consultório privado. Comecei em uma clínica onde não há atendimento de Convênios. Para mim não foi muito “lucrativo” (apesar todo aquele debate sobre honorários pagos por convênios e tal). Tinha dia que não aparecia 1 paciente, sequer, na clínica. E os que iam fazer avaliação, muitas vezes não voltavam.
Nessa de correr atrás de outros empregos para completar meus dias de atendimento (e, consequentemente, minha renda), fui convidada para trabalhar em uma clínica conhecida aqui de Resende.
Eu cogitei a hipótese de ir e lembrei que uma prima minha tinha trabalhado lá. Fui até ela para obter referências e o que eu ouvi foi chocante: luvas de procedimentos reaproveitada, tubetes de anestésicos reutilizados, falta de material de limpeza, agulhas gengivais reaproveitadas, fio de sutura “reesterilizado”. Daí pra baixo! A remuneração: R$50,00 pelo dia de trabalho, sendo que o expediente começava às 8:00 e terminava às 20:00, com 1 hora para almoço!
Não me dei ao trabalho de, ao menos, ligar para “recusar” a proposta indecente.
Continuei minha busca por emprego e fui a uma outra clínica. A aparência era muito melhor do que essa citada. Uma recepção organizada, disponibilidade de pagamento com cartões, boas instalações. Até que, o que era pra impressionar, foi por água a baixo: os donos não eram dentistas. Eram administradores e contratavam os profissionais para os atendimentos. Era uma clínica integrada.
A proposta de trabalho era: 50/50, comigo dando todo o material. Até aí, sem grandes surpresas. Muita gente trabalha nesse esquema. Questionei a respeito do valor dos procedimentos e eles tinham uma tabela própria. Avaliando, percebi que são sanguessugas: uma extração, R$36,00. Uma prótese total, R$50,00 e, de novo, daí pra baixo.
Perguntei se, como administradores, eles tinham noção dos gastos com materiais odontológicos. Titubearam, gaguejaram e eu já mandei uma bem delicada: “Vocês sentariam a mãe de vocês para tratar com dentistas que ganham R$18,00 para realizar um procedimento cirúrgico?”
Não objtive um não. Mas virei as costas e fui embora.
Recentemente, por coincidência, recebi uma paciente que é atendida nessa clínica 50/50! Ela faz tratamento Ortodôntico lá e chegou ao meu consultório com uma fístula imensa na região do elemento 21, cáries praticamente em todo arco superior e péssimas condições de higiene oral. O valor da manutenção Ortodôntica é cerca de R$40,00. E, infelizmente, o colega que a atende não a encaminhou para tratamento clínico antes da instalação do aparelho. Muito menos durante. Lógico que, nesse aspecto, precisamos levar em conta a assiduidade do paciente e tentar reverter o quadro com o nosso trabalho, sem culpar o outro pela situação que chegou até nós.
A questão é: até que ponto, ganhar por volume de atendimento é vantajoso para o paciente? Como fica a fiscalização dessas clínicas populares pela Vigilância Sanitária? No caso onde os proprietários do estabelecimento não são da área, quem responde pelas instalações?
Os pacientes precisam estar atentos às condições de limpeza, esterilização e registros legais na Prefeitura do município.
E o profissional precisa se lembrar dos conceitos de Biossegurança, dos investimentos feitos para o trabalho diário e exercer, antes de tudo, uma Odontologia ética.
Pagar barato, sai caro. Tanto para o paciente/cliente como para o Dentista.
E eu, particularmente, cobro mais caro ainda pra fazer consertos.
Costumo convencer, antes de tudo, que o valor pago não é um “gasto” e sim um investimento! (Palavras que nunca vou esquecer, nas aulas da professora Sueli Naressi).
Com saúde, não se brinca!
tenho uma clinica popular ganho mais de 30 mil mes, nao acho ki eu consiga largar para ter o salario sem vergonha de um dentista normal… (frustrado)
Que bom pra vc 😉
Sim Ana, nao podemos nos esquecer de todos os ensinamentos de nossa formação acadêmica, tenho total dedicacao a minha profissao, amo o que faço, concordo que nao podemos nos vender, se submeter a exercer a atividade em condiçoes indignas, insalubres, impróprias para o atendimento de um ser humano e por um valor mínimo que despreza nosso valor. Ao cumprir nosso exercício dentro do que é correto, podemos nos considerar satisfeitos profissionalmente, sendo assim uma pessoa melhor!
Tudo bem, sabemos de toda a história dessa clínicas populares. Na faculdade os professores sempre falam mal, para não nos vendermos… Mas acontece que nós recém-formados não conseguimos emprego fácil, é tá dificil! Existe um preconceito em contratar recém formado, e então infelizmente aceitamos o convite para trabalharmos nessas clinicas! Não temos saída, quando a coisa aperta tem que aceitar.
A dificuldade em arrumar o primeiro emprego existe e é superável. Só não se submeta a determinados esquemas de trabalho.
Lembre-se que nome vc só tem um e precisa zelar por ele.
Mariana, esse é um ponto importante de ser tocado: a necessidade de trabalhar. Quase todo recém-formado (me incluo aí) já trabalhou numa clínica dessas. Acho que o problema não é trabalhar nessas clínicas por um tempo, o grande mal está em achar que a Odontologia “é assim mesmo”. Se você tem que trabalhar, trabalhe. Mas não mude sua essência, não corrompa o que lhe foi ensinado durante a graduação, não se venda por pouco (aliás, NÃO SE VENDA). Se assim for, você vai trabalhar muito pouco tempo nesses lugares e vai crescer como pessoa e como profissional. Vá sem medo e com o Código de Ética debaixo do braço. 🙂
Aqui em Moc tem váááárias! Nunca ouvi falarem mal nem bem. Ficam distribuindo panfletos nas portas e isso, pra mim, além de anti-ético é total falta de valorização da profissão, que parece que tão garrando pacientes no laço e as pessoas não dão valor a isso. Triste! E como é possível uma PTR custar 50,00???????? o.O cadê CRO e a Vigilância????
Muito bom seu post, eu sempre tento alertar meus pacientes sobre “o barato sai caro”. Realmente é revoltante ver o quanto a nossa profissão anda prostituída, eu atendo em posto de saúde e canso de ver pacientes com aparelho ortodôntico repletos de cáries e quando eu pergunto se foi o orto que indicou a resposta quase sempre é não, o próprio paciente viu a cárie ou está com dor. Outro dia atendi uma paciente que estava marcada numa dessas clínicas populares para colocar aparelho, mas como ela estava com várias cáries, inclusive interproximais eu avisei que ela só deveria montar o aparelho após o tratamento. Eis que a paciente foi na consulta marcada com o orto e falou que estava com cáries e o colega falou que ela não tinha nada (!) e montou o aparelho! A paciente inclusive me falou que fizeram radiografias. Gente, na boa, ou quem atende lá não é dentista, pq não consegue ver as cavidades nem clinicamente nem no RX ou a falta de ética profissional tá sinistra!!! Eu só sei que é muito triste ver isso acontecendo com a nossa profissão…
As clínicas populações estão devorando a nossa profissão. Muitos pacientes mais carentes veem nessas clinicas uma possiblidade de tratar os dentes, mas o que se vê nessas clínicas, infelizmente, é um desrepeito ao Código de Ética e aos princípios odontológicos. Fico a pensar se o dentista q trabalha em uma clínica dessas não acha que está jogando a faculdade pela janela. Porque pra ser dentista de qq jeito não precisaria passar, inicialmente, 5 anos estudando. Outro dia me contaram que uma clínica aqui na minha cidade dilui o adesivo com agua pra fazer render e como a restauração não fica muito firme, depois de um tempo ela cai e cobram como novo procedimento… Acho que o que mais me motivou a partir pro serviço público são essas clínicas populares, pq nos centros de saúde se atende a população carente com o mínimo de biossegurança, respeito e tentando ao maximo seguir os princípios odontológicos. Me pergunto onde está a vigilancia sanitaria e o conselho nessas horas.