Então.

É fato que algumas pessoas têm maior predisposição à carie. Tem gente que, se perguntada, não sabe nem a cor da sua escova de dentes (se é que tem uma), e mesmo assim dificilmente tem cárie. Outras pessoas procuram se esforçar  na higienização bucal, mas mesmo assim de vez em quando aparece alguma cavidade. Por quê?

Antes de falar do estudo do título, uma explicaçãozinha rápida pra você que não é dentista.

O que causa cárie?

A cárie é uma doença multifatorial. Isso significa que ela não tem uma causa única, mas é fruto de uma combinação de fatores. Pra ela acontecer precisamos de 4 coisas: um dente (oh!), bactérias, comida para as bactérias e tempo (porque cárie não se forma de um dia para o outro). Além desses 4 fatores principais existem outros que contribuem no processo, como a qualidade (capacidade tampão) da saliva, por exemplo. E agora vem o assunto deste texto: a genética da pessoa.

Cárie

O que afirma o estudo?

Pesquisadores da Universidade de Zurique identificaram pela primeira vez um complexo genético que atua na formação do esmalte dental. Duas equipes do Centro de Medicina Dentária e do Instituto de Ciências da Vida Molecular usaram camundongos com mutações variadas das proteínas do esmalte envolvidas na via de controle celular alterada, conhecida como WNT, uma das formas de comunicação das células para ativar genes específicos.

Essa via de sinalização é essencial para o desenvolvimento embrionário e também desempenha um papel fundamental no desenvolvimento de câncer ou malformações físicas.

De acordo com a pesquisa, todos os ratos com mutações nessas proteínas apresentavam dentes com defeitos no esmalte. Assim os cientistas estabeleceram uma ligação com o desenvolvimento do esmalte.

Usando métodos genéticos, moleculares e bioquímicos, os pesquisadores descobriram que três proteínas estavam envolvidas na via de sinalização de Wnt influenciavam a estrutura dos dentes.

A pesquisa concluiu que a formação das cáries não está ligada apenas às bactérias, mas à resistência dos dentes. Esses agentes podem penetrar mais facilmente em dentes com esmalte menos estável, que tenham algum defeito genético, mesmo que a higiene bucal seja excelente.

Para os cientistas, entender como essas mutações genéticas funcionam pode ajudar a criar novas formas de proteção contra cáries.

Então a “culpa” não é sua?

Ééééééé… pera lá. A conclusão de que “mesmo com higiene bucal excelente” as pessoas continuarão tendo cáries caso tenham alguma alteração genética na formação do esmalte, soa pra lá de condescendente, não acham? É óbvio que dentes com algum problema na formação do esmalte serão mais susceptíveis à cárie… eu já sabia disso ainda quando era acadêmica. Dentes com hipoplasia de esmalte, amelogênese imperfeita, fluorose severa… e por aí vai. O esmalte é a primeira “camada” de proteção dos dentes, se ele tem algum defeito… a proteção é menor. E se esse defeito causa cavitação é pior ainda, porque aí há maior retenção de placa bacteriana e complica tudo.

Esse estudo, importante – sim – na minha opinião, só mostra mais um fator colaborador para o caráter multifatorial que a cárie já tem. Mas o que vai ter de gente usando essa explicação… “pois é, menina: é genético”. E a escova lá ornando com o tapete do banheiro. 😉

Ninguém que está predisposto a ter cárie está condenado a ter cárie. #paz

Via Science Daily

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