Pegando o gancho do post da Ju Lemes falando de especializações, vou comentar um pouco da minha. Sinto-me discriminada por alguns colegas pela falta de reconhecimento pela especialização em Saúde Pública ou em Saúde da Família. Não, elas não me custam um carro nem um apartamento. Elas são gratuitas. E também me tornam uma especialista.

Nunca foi um tema que esteve tão em evidência como hoje. O governo pretende disponíbiliar 1000 vagas para o Rio Grande do Sul esse ano para a Especialização em Saúde da Família pela Una-SUS. Os priorizados, nesse caso, são os profissionais que já atuam na Saúde Pública.

Alunos da Medicina e Odontologia do PET-Saúde na ESF Lava Pés, realizando uma consulta multidisciplinar.

É uma especialização multidisciplinar: para Enfermeiros, Médicos e Dentistas. Só não sei porque ainda o menor número de vagas é pros dentistas. Seria a falta de interesse da nossa classe pela área pública? Certos colegas desdenham o profissional do postinho mas pra mim, atuante no serviço público e privado as áreas não tem distinção. E o melhor de tudo: me possibilitam ter carteira assinada, férias remuneradas e 13º.

Foi-se o tempo em que a Odontologia era só glamour. Hoje, cerca de 10.000 dentistas se formam por ano no Brasil, e há lugar apenas para os melhores. Não vou dizer especializados (claro que isso conta também), vou dizer melhores: quem tem melhor condição financeira, quem tem um melhor padrinho ou quem tem a melhor cabeça, foca no estudo e passa num concurso público. Ou pra quem tem paciência e perseverança de abrir um consultório particular e esperar de 3 a 5 anos pra obter retorno.

Trabalho na Estratégia da Saúde da Família Lava Pés há 3 anos. Há 2 surgiu o programa PET-Saúde, uma parceria do Ministério da Saúde com a UPF e a secretaria municipal da saúde. É um programa de extensão, ensino e pesquisa do qual sou preceptora na unidade de saúde em que atuo, juntamente com médico e enfermeira. A intenção do projeto é fazer os estudantes enfrentarem o SUS desde a faculdade, pois muitos se formam e depois dão de cara com o serviço público e acabam não prestando um serviço de qualidade. O PET existe em outras regiões também, é um programa nacional, informe-se!

Pra medicina não sei se mudou muita coisa, pois eles já tem aulas de Saúde Coletiva dentro das unidades de saúde. Pra enfermagem, geralmente no último ano os alunos tem estágios curriculares onde podem escolher hospital, centro de saúde, ou estratégias de saúde da família, onde geralmente passam 1 mês, 40 horas por semana, trabalhando como se fosse um membro da equipe. Na Odonto… cri cri cri! Poucas são as universidades que levam o aluno pro serviço público. Aqui em Passo Fundo pelo menos não era assim. A visão de Saúde Coletiva não era a visão da Saúde Pública, e graças ao PET-Saúde isso tá mudando.

Tenho alunos se formando e alunos que vão se formar. Tenho o maior orgulho de ter um dos meus ex-alunos hoje residente da Escola de Saúde Pública em Saúde Coletiva. Tá lá, recebendo bolsa, fazendo a sua residência, e com certeza já é um profissional qualificado pro serviço público. Tenho outro que vai fazer o TCC dele envolvendo os idosos da área de abrangência da nossa unidade de saúde da família. É o único da turma a realizar uma pesquisa em Saúde Coletiva.

Quando eles me pedem uma opinião de que especialização fazer depois de formados… minha dica é: SENTA NO MOCHO E TRABALHE! Depois decide o que quer fazer. Faça atualizações, aperfeiçoamentos… a realidade pós-formatura é outra, e as opções e o que gostamos pode mudar. Falo por mim: saí da faculdade pensando em fazer estética (aquelas mudanças grandes, dando novo formato aos dentes). Fiz uma vez isso na faculdade e ficou liiiiindo, a paciente amou. Depois fiz outra e a paciente só encheu o saco, porque ela queria os dentes da Aline Morais. Depois mudei de idéia, queria ser buco-maxilo. No aperfeiçoamento em cirurgia que fiz era tudo muito glamuroso e os residentes muito bem encaminhados. Depois notei algo: nunca teve uma residente mulher. E em Passo Fundo, conheço vários bucos que tiram sisos no consultório, assim como eu faço com meu aperfeiçoamento. FALA SÉRIO! Pagar um apartamento numa especialização pra fazer coisas que um aperfeiçoamento me permite? Era isso ou tentar ser a primeira mulher residente em Floripa, aí desisti.

Acabei na Saúde Pública por acaso. Tava desempregada. Descobri que posso fazer estética, cirurgia e principalmente, o que mais gosto: PEDIATRIA. E é lindo ver as crianças crescendo e você estar acompanhando o progresso delas. É muito bom também trabalhar com a equipe multidisciplinar, tratando a gestante como um todo, o idoso como um todo. Dá resultado! E é muito prazeroso você ver que pequenas ações geram grandes resultados.

Então, um incentivo: não subestime aquele colega “dentista do postinho”. No futuro, será reconhecido como um especialista, pois é preciso ter um dom pra trabalhar no serviço público. Vemos gente de todos os tipos: drogados, prostitutas, pobres, super pobres, classe média, traficantes, crianças, idosos, gente do bem. E tratamos todos da mesma maneira. Afinal… o governo não estaria investindo tanto para qualificar esses profissionais se não fosse exigir por isso no futuro!

O SUS é lindo!! Meu incentivo é pra que todos façam parte 🙂

#goDIVAS! GO!

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