Segunda-feira à noite e eu no começo do meu plantão resolvi escrever este texto pra contar como foi a extração dos meus 4 sisos. Sim, dos 4. Porque dentista faz tudo que diz pro paciente não fazer, e quando vira paciente é o pior paciente. A máxima do “faça o que eu digo mas não faça o que eu faço”.

Minha panorâmica

Há 12 anos terminei minha ortodontia. A orto fez um trabalho compensatório muito bom, e pediu pra extrair meus sisos.  Eu não pensava em ser dentista ainda quando isso aconteceu, mas já morria de medo de agulha. Depois veio a odontologia, o meu aperfeiçoamento em cirurgia oral menor e o medo só aumentou. E COMO aumentou!! Que atire a primeira pedra o dentista que não tem medo de dentista.

Não sei porque esse medo existe ou cresce na gente depois da faculdade. Mas, sabendo como as coisas funcionam a gente aprende principalmente em como as coisas deveriam não ser. E a gente percebe a quantidade imeeeeensa de coregas fazendo merda besteira na boca das pessoas.

Eu sempre disse que se não fosse tão cagona eu mesma faria o procedimento. Metia uma alavanca reta na distal do 17 e do 27, fazia “plec” e deu, os dentes sairiam. Descolava bem a gengiva do 38 e 48, luxava com alavanca reta e “plec” com um fórceps, que sairiam também. Só seria impossível eu mesma me fazer a anestesia.

Eis que comecei ortodontia há 3 meses. No fim de semana começa o 3º módulo, e começamos a lidar com o Typodont. Sabendo do meu dente 12 levemente inclinado e vestibularizado, fui atrás de uma documentação ortodôntica pra me avaliar. A gente começa a ver os próprios dentes com outros olhos, e pequenos detalhes que nunca demos importância antes parecem monstruosidades da boca de nós, dentistas perfeccionistas. Na análise do modelo percebi a orto compensatória. Sou classe I de molar e chave de canino, boa oclusão. Mas como minha maxila não desenvolveu tudo o que deveria por problemas de respiração por causa de um maldito desvio de septo horrendo vide panorâmica (que eu também NUNCA percebi antes), o tratamento foi compensar o crescimento da minha mandíbula inclinando meus dentes inferiores para a lingual e vestibularizando um MONTE os incisivos superiores. Poderia ter sido feito uma expansão ou disjunção, mas acho que a orto da época preferiu assim. E ficou bom.

Na análise cefalométrica deu que sou braqui severo. Meu rosto não diz isso, mas minha arcada associada com aquela montoeira de ângulos que eu tô aprendendo disseram que sim. E eu resolvi tratar.

Imediatamente após a cirurgia, diva Fofão

Primeiro passo: Sisos malditos! Criei coragem, encontrei um colega que eu poderia confiar, me dopei com Dormonid e 4 horas depois virei Fofão. Falei o tempo inteiro na cirurgia e ainda pedi pra auxiliar levantar o campo que eu precisava de um pit stop no banheiro. De começo, tinha dito que se ele levasse até 40 minutos tirando os dois primeiros poderia tirar os outros dois. Depois das primeiras duas horas de cirurgia e da minha “chapadeira” pelo sedativo, insisti pra que tirassem os outros dois. E assim ele fez, com uma paciência de monge aguentando eu tentando passar as cordenadas com a boca cheia de gaze, alavanca, afastador e sangue…

“Pega a a-avanca e co-oca na dital!” 

“Ao-a pega o fóceps!”

“Tem raix xim, puxa pra dital e vetibular que xai, to sitindo!”

“AAAAAAH, tá doedo!!! Maix anetegia!!! Na paatina!”

Pensa… já ouvi falar que o pior paciente é sempre o dentista. E eu tenho certeza que não devo ter sido uma paciente das melhores, mas muita coisa eu não lembro né, graças ao São Dormonid.

Que devemos fazer depois de extrações de sisos, ainda mais as demoradas??? REPOUSO! Cabeça elevada! Não falar! E o que foi que eu fiz? Fui dar aula de manhã. Acordei mais Trakinas ainda, e falei, falei, falei… até que interrompi a aula porque tinha soltado o coágulo do 18. E todo mundo dizendo que eu era louca, minhas alunas disseram que entendiam e me mandaram embora. As danadinhas do ASB 07 😉

No dia seguinte, cerca de 12 horas após a cirurgia, antes de ir dar aula.

Depois tem todos aqueles cuidados com alimentação, medicação, gelo e higiene bucal. Isso posso dizer que segui a risca, inclusive ainda estou usando o chá de malva, e apenas 3 dias depois da cirurgia a ferida cirúrgica já está quase fechada. Medicação tô usando certinho até demais, e adepta à filosofia “erre por medicar a mais, e não a menos” pude comprovar o efeito dos remedinhos, estes não me deram dor nenhuma. Gelo? Nada melhor que aquelas bolsinhas, mas chegou a assar meu rosto de tanto que botei.

Bolsinhas de gelo que assaram meu rosto…

Alimentação? Essa está sendo a parte mais difícil. Como minha boca ficou machucada nas duas comissuras pelo afastador, e pela cirurgia ter sido bilateral, a dificuldade em abrir a boca foi grande. E mastigar só com os incisivos também. Sou um tanto glutona eu gaúcha, e na minha casa tem churrasco todo domingo! Comer em pequenas porções é um sacrifício pra mim. Mastigar que nem criança, roendo com os incisivos um pedaço de costela no churrasco de domingo foi o mais difícil. Levei uma hora pra almoçar. Claro que, além da costela, muito purê de batata. Acho que depois dessa semana vou ficar muito tempo sem comer purê de batata, sorvete e iogurte.

Sorvete de manhã, de tarde e de noite.

Enfim, tô só pelo fim dessa semana. Domingo tava morrendo de vontade de comer pizza, mas não deu. Purê de batata e sopinhas são minhas únicas comidas de sal. Hoje consegui comer uma torrada com garfo e faca no meio da tarde, levei só 20 minutos. E a única frase que não sai da minha cabeça é uma da Sil, que também passou pela mesma coisa que eu estou passando:

“É ruim mas é bom. “

#goDIVAS! GO!

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