A Saúde Bucal Levada a Sério?

Semana passada, no Twitter, um assunto tomou conta da minha timeline e da de outros colegas dentistas – o atendimento do paciente usuário do Sistema Único de Saúde! O assunto ficou tão “bom”, que nos reunimos no MSN e fizemos um Odontochat, sério, discutindo sobre o sistema. Eis que hoje de manhã, minha primeira paciente era uma emergência. Quer saber o que houve?


Na quinta-feira passada essa paciente compareceu ao consultório, queixando-se de dor. Como ela não havia disponibilidade de horário para ser atendida naquele momento, pediu que a agendasse para hoje, no primeiro horário. A agenda estava cheia, logo a encaixei meia hora antes do início normal dos meus atendimentos.

Cheguei ao consultório e a paciente me informou que na quinta (dia que ela compareceu ao consultório), procurou o atendimento odontológico no Hospital de Emergência da cidade, pois ela sentia muita dor.

Relatou que o colega que a atendeu apenas “deu um ventinho” (SIC) no dente dela e a medicou com Amoxicilina, Diclofenaco e Paracetamol, alegando que o dente precisava de tratamento de canal. O antibiótico e o antiinflamatório foram administrados via parentereal (injeções) e a paciente foi dispensada, com o dente aberto.

Bom, a meu ver, o paciente que comparece à noite, num atendimento de emergência, não está de brincadeira. As pessoas conseguem dormir com dor de cabeça e com cólica, por exemplo. Mas, dificilmente, consegue-se dormir com dor de dente. Aliás, quando eu trabalhava no PSF, sempre comentava com a equipe: o paciente que chega à Unidade de Saúde antes da equipe, relatando dor, realmente está com dor. O cuidado precisa ser redobrado, porque ninguém acorda antes do galo cantar à toa!

Não entendi o motivo da prescrição do antibiótico, já que não havia edema. O elemento estava aberto e o procedimento que deveria ser realizado não demoraria 20 minutos – abertura + irrigação/instrumentação do canal + tricresolformalina + curativo com OZE. Qual o mistério nisso? Pra que bombardear a paciente de medicação sendo que a intervenção clínica resolveria o problema dela? E outra, além da administração excessiva de medicamentos, a falta de orientação. Ela chegou aqui do mesmo jeito que compareceu ao atendimento público – dente aberto.

Era exatamente sobre isso que falávamos no MSN.

Até que ponto ocupar um cargo público na Saúde é comodismo/segurança e quantos são os profissionais realmente capacitados e engajados com a causa da população (carente) desse país? Será que o município dispõe da quantidade necessária de profissionais que realmente trabalham ou as Prefeituras virarm cabides de empregos? As equipes de saúde estão completas? A demanda de pacientes é atendida? E, o mais importante, atendida com dignidade e respeito?

Para ocupar um cargo público, sabemos que “Concurso” nem sempre é necessário. Em cidades pequenas, esquemas de conxavos e favores políticos fazem um profissional ser contratado para atender à população. Se ele se enquadra às necessidades do trabalho, são outros 500…

Alguns municípios contam com a capacitação do profissional e o incentivo ao curso de pós graduação em Saúde Pública, caso que ocorre no município de Paty do Alferes / RJ.

A questão é que, além da falta de preparo (ou vontade de trabalhar), geram vários problemas: reclamações por parte dos pacientes, prescrição errada de medicação, uso indiscriminado de antibióticos e uma bola de neve se forma, porque os problemas não são solucionados. A sujeira é colocada em baixo do tapete.

Sendo o SUS Universal, por que esse tipo de descaso na Saúde?

Como resolver isso? Sinceramente, não imagino.

Só penso que, se não está apto para ficar “in loco” num Hospital que é referência de atendimento para vários municípios vizinhos, saia. Melhor do que ficar aí… Dando injeção nas pessoas e mandando pra casa dormir.

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