Dizem que a liberdade de uma pessoa vai até onde começa a liberdade do outro. E a responsabilidade com um paciente vai até onde?

Imaginem a cena:

Você atende um paciente, faz todos os procedimentos clínicos nele, revisão de 4 em 4 meses e vai tudo bem. Até ele precisar de uma endo no dente 26 que você não faz. Aí você encaminha pra um colega em que confia.

O paciente vai até o colega que realiza a endodontia com maestria e a restauração Classe II em resina que foi um pouco subgengival até mas que fica satisfatória. Mas tem um problema: o paciente tem bruxismo e não usa plaquinha. Então o cantinho (aquele, do ponto de contato) sempre rompe, e de tempos em tempos o dente incomoda porque entra comida no espaço interproximal.

O que o colega precisaria fazer?

Em primeiro lugar, nem a restauração. Você encaminhou o paciente pra realizar uma endodontia. Mas já que ele fez a restauração, a responsabilidade é dele.

Tudo bem, restauração feita. O que ele deveria fazer então?

Ajustar a restauração e orientar o paciente para falar com a plaquinha de bruxismo com a dentista dele.

Ele não fala sobre a plaquinha de bruxismo, afinal é um paciente muito difícil. Ele tem várias restaurações desgastadas pelo bruxismo e algumas infiltram facilmente por causa disso, mas no acompanhamento radiográfico tá ok.

Numa conversa informal o paciente comenta contigo que o dente incomoda mas só de vez em quando, geralmente quando ele precisa “palitar” os dentes. O paciente nem te procura mais quando tem algum outro problema que não seja limpeza e começa a idolatrar o outro dentista. A pontinha interproximal da restauração continua caindo e o paciente continua enchendo o saco do dentista que foi encaminhado pra fazer o canal. Você já quase se conforma por ter “perdido” o paciente  pro endodontista.

Até que um dia o endodontista resolve mexer no dente do lado, afirmando ter uma cárie. Quando passa a anestesia o paciente urra de dor. O endodontista fez um curativo que você não viu clinicamente, mas medica ele pra inflamação. O paciente reclama e blasfema de dor a noite inteira, porque o dente não doía, só incomodava um  pouco. Ele liga pro endodontista e este fala que se o dente permanecer doendo “vai ter que tratar canal”.

E aí, o que tem que fazer?

Mandar o paciente pastar? Dizer: “Bem, eu avisei. Não fui eu que fiz, agora procura o teu dentista.”

Pois é. Mas nesse caso o paciente é meu pai.

Fica difícil realizar um tratamento adequado em um paciente quando um dentista não reconhece o seu limite. O limite de responsabilidade de um dentista vai até onde começa a do outro. Se o paciente cai na conversa do colega deixa de ser minha responsabilidade (mesmo sendo meu pai).

Lá no PSF onde atendo um fluxo maior de pacientes, em 3 anos eles aprenderam isso. Aprenderam que se querem ser atendidos por mim vão ter que fazer exatamente o que eu digo: o canal no lugar tal, a restauração no lugar tal. A medicação antes da extração quando o dente está doendo, ao invéz de voltar com a alveolite pra eu resolver depois.

Demora. É difícil. Mas a gente aprende. É sempre melhor começar certo do que começar rico. A conta um dia aumenta, o nome não se limpa mais.

Colegas, um conselho pra 2012: valorize o seu trabalho. Cobre por ele e não tenha medo de perder pacientes assim. Os SEUS pacientes virão.

Mais um? Referência e contra-referência. Importante ferramenta.

Só espero que um dia eu possa dizer no consultório que sou responsável por 8000 pacientes como eu sou no PSF hehehe!

#goDIVAS! GO!

 

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