Depois do fuá do último post sobre clareamento aqui no OdontoDivas, aquele das fitas branqueadoras, me senti na obrigação de falar mais sobre o procedimento de clareamento caseiro.

Muitos leitores (consumidores, assim como eu), me chamaram de TENDENCIOSA porque dentista é tudo um bando de morto de fome que ganha dinheiro por meio de procedimentos clareadores e que nós, profissionais, nos sentíamos bravos por estar sendo apresentada uma opção mais barata no mercado. Enfim, um blablabla democrático (ofensivo, mas democrático).

Como se sabe, o clareamento dental surgiu em 1860, realizado exclusivamente em consultório, por meio do calor gerado por instrumentos aquecidos em contato com agentes químicos a base de cloro, dióxido de enxofre e ácido oxálico. O procedimento caseiro surgiu na década de 80, quando se observou o poder clareador do Peróxido de Carbamida utilizado como anti séptico bucal.

Existem 2 produtos, hoje, utilizados para o tratamento: Peróxido de Hidrogênio (sim, ela mesmo – ÁGUA OXIGENADA), com variação de concentração de 3 a 38% e o Peróxido de Carbamida, com concentração variando de 10 a 37%. Daí você, meu caro leitor, se pergunta: qual a diferença entre eles?

Simples!!!! A carbamida é carreadora do peróxido de hidrogênio e tem sua quebra (sua reação química) mais lenta. Ela se quebra em outros compostos químicos, também responsáveis pelo clareamento, até chegar no que realmente interessa: oxigênio e água.

O oxigênio liberado na reação, por ter peso molecular leve, entra na estrutura dental, atinge as moléculas de pigmentos e PÁ – quebra essas moléculas e clareia o dente. Uma espécie e efervescência (no popular rsrs) acontece dentro do dente. Por isso nós Dentistas dizemos: CLAREAMENTO É UM PROCEDIMENTO QUE OCORRE DE DENTRO DA ESTRUTURA DENTAL PARA FORA DA ESTRUTURA DENTAL. Com essa afirmação, podemos dizer que as pastas clareadoras milagrosas não são tão milagrosas assim…

O clareamento caseiro pode ser feito tanto com o peróxido de carbamida quanto com o peróxido de hidrogênio e a escolha de qual agente usar só será decidida depois da anamnese do paciente e do conhecimentos dos hábitos do seu cliente. Se é uma pessoa que vive com tempo contado, por exemplo, o Hidrogênio é mais recomendado, pois a reação é mais rápida – cerca de 1h. Se tem tempo sobrando, a carbamida pode ser indicada sem problemas. Mas o que é comum a ambos os compostos é a proteção tecidual.

Para que o tratamento seja feito em casa é necessário confeccionar uma moldeira individualizada para o paciente cujo material é semelhante a um silicone, que garanta o recobrimento total das estruturas dentais e que assegure que, ao ser colocada na boca, não saia de posição nem permita extravasamento do material para os tecidos gengivais. Faz-se um molde, obtem-se um modelo e, depois, é feita a placa/moldeira.

Clareamento caseiro 016

Moldeiras confeccionadas a partir do molde do paciente (no caso, eu)

Clareamento caseiro 014

Notem que a seringa fornecida tem o mesmo composto das tiras clareadoras de farmácia – Peróxido de Hidrogênio 7,5%

Depois desse passo laboratorial, é importante os esclarecimentos ao paciente em relação a quantidade aplicada, ao tempo de uso, ao consumo de corantes, sensibilidade dental, relação clareamento e procedimentos restauradores/protéticos e, principalmente, a recomendação de acompanhamento e registro da cor. Costumo dizer aos pacientes que eles não enxergam o clareamento, pois se acostumam com a beleza dos dentes brancos. É mais ou menos como ter um Fusca 67 e trocar por um Audi R8. Ambos são carros, mas você, provavelmente, vai esquecer como era dirigir o Fusquinha! 😉 Assim é com o clareamento: quando os dentes ficam brancos, você esquece de como eles eram quando amarelos.

A seringa fornecida pelo profissional dura em média 3 semanas. A aplicação do produto é bem pouca, logo desconfie se a sua dura menos tempo (menos que 15 dias, por exemplo). Você, provavelmente, está fazendo isso errado e precisa ir ao seu Dentista e pedir mais orientações. O gel, quando aplicado na placa, em pouca quantidade, forma uma película quando em contato com o dente e essa película já é suficiente para que o processo ocorra. Não é necessário atolar a placa de clareador! Não faz a sem educação, gata! É de pouquinho… bem delicadamente!

Há todo um estudo, um conhecimento científico que justifica a revolta dos Dentistas quando do lançamento das tiras no mercado. Antigamente, outra marca famosa (a da pasta vermelha) colocou no mercado um clareador que parecia um corretivo, desses de papelaria. Isso, na minha opinião, é chamar o Dentista de idiota! Há tempos não vejo esse produto no mercado, graças a Deus!

É um tratamento, precisa de acompanhamento e requer orientações. Concordo que tem profissional que exagera na hora de repassar ao paciente os custos, mas acho que tudo é negociável. Mas, no produto vendido em farmácia, você não encontra informações como: se houver restaurações ou próteses, poderá haver a necessidade de troca dos mesmos; em caso de sensibilidade e queimaduras, que produto usar para amenizar os sintomas; garantia do serviço prestado, etc.

O que importa, de verdade, é que isso seja feito sob supervisão de alguém que estudou pra isso e que, em caso de problemas, saberá como resolvê-los. Não adianta pegar um vidro de água oxigenada “Marcia” e sair bochechando por aí, achando que tá toda glamurosa e trabalhada no brilho dos dentes, muito menos encher o armário do banheiro com essas tiras que a Gisele insiste em dizer que são “bacanudas”.

FAÇA CLAREAMENTO DENTAL RESPONSÁVEL. PROCURE UM DENTISTA!

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