Uma discussão foi travada ontem de tarde via Twitter, graças ao post da nossa diva Ju Lemes. Adoro essas discussões, muitas opiniões e condutas diferentes aparecem.
Não estão erradas e talvez nem todas certas, mas todas chegam ao mesmo desfecho: a solução do problema do paciente. Cada um com a sua conduta, adequada para o caso, de acordo com o que aprendeu ou convive. O Luiz Rodolfo como plantonista já abordou o tema no blog DicasOdonto brilhantemente, quem quiser conferir clica aqui.
Tenho pavor daqueles pacientes que chegam no consultório falando mal do dentista anterior: “Aquele dentista fez um rombo no meu dente!” ou então: “Ele mexeu tanto no meu dente que eu tive que segurar a mão dele!” e pior ainda: “Ele só mexeu com o espelhinho no meu dente e doeu, não fez mais nada…”. Não sabemos quais foram as circunstâncias que levaram aquele dentista a tomar determinada conduta.
Muitos pacientes fazem um tour pelos postos de saúde e até mesmo nos plantões, volta e meia acabam comigo novamente. Me dá vontade de largar um “Bem feito pra ti!” pra aqueles pacientes que reagudizam um processo crônico. Anoto tudo na ficha clínica: medicação prescrita e o tempo solicitado para o retorno. Quem segue as minhas orientações prescritas passa por exodontias indolores e tratamentos de canais tranquilos. Por quê? Eu SEMPRE medico. Prefiro errar por medicar demais do que por de menos. Mas não pensem que isso foi a faculdade que me ensinou e sim 3 anos de Estratégia de Saúde da Família.
É preciso ser criativo e improvisação pra trabalhar em PSF. Quem não consegue isso pode esquecer: não tem perfil de PSF e vai se frustrar. O que aprendemos na teoria funciona perfeitamente bem quando temos todos os recursos disponíveis – o que não acontece na maioria das vezes no serviço público. Já fiquei muito tempo sem limas endodônticas por exemplo, precisava solucionar os problemas com o que tinha. Foi assim que aprendi a usar o amalgamador: ficando sem ácido para condicionamento por mais de 1 mês! Na prática, porque a academia me disse que não era preciso saber fazer um bom amálgama já que não era mais tão usado nos dias de hoje graças às resinas de alta geração. No meu consultório tudo bem, no PSF são outros 500.
Por trabalhar 40 horas semanais na atenção primária, sigo uma agenda para atender aos meus pacientes. São agendados 8 pacientes para as manhãs e 5 para tarde. Além disso, são realizados atendimentos de urgência, visitas domiciliares, prevenção na escola, reuniões de equipe e atendimentos realizados por alunos que supervisiono. Encaixa isso tudo numa agenda semanal?
Entende-se por urgência: dor aguda ou fratura dental. Pré-requisito no PSF. E dor aguda faz com que os pacientes saiam cedo da cama.
Fico @#$% da cara com aquele paciente que chega às 11:45 com dor e quer ser atendido. Sabe aquele diazinho frio ou com chuva? SEMPRE acontece nesses dias, às 11:45, pacientes relatando que não dormiram a noite toda. E tavam fazendo o que a manhã inteira?
A população fica mal acostumada. Quer atestado pra manhã inteira. Eu mesma ensinei alguns a fazer o teatro pra conseguir fazer Rx no CAIS sem agendar: Só dizer que estava morreeeeeendo de dor. Se não for um dentista o examinador, médico, enfermeira, técnicos, todos caem na estória. Aí o culpado é o dentista malvado que medicou sem instrumentar. Vamos combinar né?
Enfim, o que estou querendo dizer é que não podemos julgar a atitude de um colega pelo que o paciente diz na maioria das vezes. Cada um tem a sua conduta, e ambas chegam a uma solução de maneiras diferente, depende do que o paciente vai fazer também.
O caso da foto acima apareceu ontem de tarde, durante nosso embate via Twitter. A minha conduta nesse caso da foto ali em cima foi:
*realizar teste de percursão vertical;
*pressão digital na região de fundo de sulco;
*secar a área aberta para verificar.
O que eu encontrei:
*dor à percursão vertical e palpação;
*mobilidade leve;
*lesão de furca;
*ausência de exudato.
A minha conduta terapêutica:
*Prescrição de Azitromicina e Ibuprofeno;
*Retorno do paciente para exodontia no 2 dia de medicação;
*Deixei o dente aberto.
Conclusão:
*Resolvi o problema de dor do paciente, e quando for realizar a exodontia ele não estará mais sentindo dor à percurssão – logo, esta será realizada mais rapidamente e sem o sofrimento do paciente, visto que só tenho lidocaína para anestesia.
*Não fechei o dente porque mais inflamado/infeccionado que está não vai ficar;
*O paciente voltará para realizar outros procedimentos, visto que não houve sofrimento para a exodontia.
O que pode acontecer:
1) Ele volta no 2º dia de medicação e a exodontia e sutura são realizados tranquilamente, sendo prescrito apenas paracetamol se dor.
2) Vai passar a dor e ele vai esquecer de voltar. Vai voltar daqui 3 meses com o rosto inchado e um abcesso do tamanho de uma laranja, sem conseguir abrir o olho (é o que sempre falo pra eles voltarem).
3) Vai aumentar a resistência bacteriana e ele nunca mais vai poder tomar azitromicina!! MWAAAAA! Menos né galera! Menos! 😉
E que venham as pedradas! =D
#goDIVAS! GO!
Achei muito anti ético e sem profissionalismo esse documentário. Você acha que um paciente sabe oque estar se passando para ele ter essa dor? e você acha que os pacientes tem carros e transportes para se locomoverem, e outra, você atende o paciente de 11:30 mas quanto tempo ele não passou para conseguir o atendimento?
Se o paciente é atendido as 11:30 é porque tinham outros pacientes antes dele para serem atendidos também. E o nosso papel é esse: explicar o porque ele tem dor. Eu não posso pegar o meu carro e ficar levando o paciente de um lado pro outro, pois como eu disse, existem outros pacientes com necessidades.
Concordo. Nem todos tem facilidade de locomoção, tão pouco são atendidos de imediato nos ps.
também trabalhei 2 anos num psf..e aprendi muito!! inclusive medicar , e até improvisar(isso mesmo, caro colega, improvisar!).tem situações que só quem passsa ,sabe!
parabéns!
bj!
>Parabéns pelo Post, Marjo. Mostra que a realidade é muito mais difícil que a teoria (e olha que a teoria já difícil). Muita gente hoje fala da super dosagem de antibióticos e tudo mais. Porém, devemos olhar o momento e o paciente. Mesmo com convênio, às vezes demora mais de mês pro paciente conseguir marcar um início de tratamento de canal (absurdo!) depois de realizar a urgência. Neste mês todo ele ficará com risco de dor e abcesso. Por que não dar um antibiótico? Aí vai da conduta e consciência de cada. Na urgência tento segurar a caneta com os antibióticos, mas se está com pus e ainda por cima com febre, não arrisco, passo mesmo.
>Oiês!
Bom, entendo e concordo com o que a Marjo faz devido:
– às circunstâncias em q muitos pacientes e ela mesma encontra no ESF
– ter trabalhado no começo da carreira em um consultório 'porta-aberta', no qual a agenda era quase um enfeite sobre a mesa. Quem chegava TINHA que ser atendido, portanto aprendi a máxima "dá remédio e manda voltar depois", para qdo o negócio tava pegando fogo.
Hoje, vivo uma situação muito diferente, na qual atendo só com horário marcado. Conto nos dedos de uma mão quantas receitas de ATB avio numa semana.. isso porque (argumentamos isso na thread de ontem) só medico se tem exsudato purulento drenando, ou resquício do mesmo dentro do conduto, ou abscesso (endo ou periodontal). Raros casos prescresvo também em lesões latentes.
Não julgo o colega, justamente por não saber as condições na qual ele teve acesso ao paciente, bem como as condições q o paciente apresentou ao colega. Tem gente q vem acostumada por uma conduta e mudar este pensamento não é fácil.
Mas como encerramos a discussão ontem, o mais importante sempre deve ser o bem estar do paciente e isso se dá na ausência de dor. Como aí no ESF são casos que acabam na exo, acho totalmente válida sua conduta.
Bjos
>Parabéns Marjo. Confio em seu julgamento clínico. Se resolveu o problema da dor e da inflamação, e você removeu sem dificuldades o elemento dentário; a prescrição foi inteligente e por consequente útil. A posologia em sua prescrição é feita a manter os níveis séricos condizentes com a meia vida farmacológica, potencializando sua ação e evitando a resistência dos microrganismos. Sem medo.
>Adoro um embate!
Acredito duvidando de tudo que o paciente me fala. Não que o ache mentiroso, mas via de regra não sabe do que está falando.
Também não medico sem intervenção, mas minha realidade é outra.
Paciente com leve dor que veio às 19h (era o horario que eu tinha) mas faltou no trabalho com medo do dente doer e quis atestado pro dia todo. Me recusei, mas a colega dona da clinica deu(!).
Não devemos generalizar nada.
Trabalhei no PS da APCD que é vizinho de um PS Municipal e os colegas Buco plantonistas med com AB e mandavam pra APCD. Muitas vezes era uma pulpite.
Na real, cada caso é um caso. 20 anos e eu sempre aprendo com estes embates.
>Marjo,
Acho certíssima a sua conduto e quem trabalha em posto pública provavelmente tb.
Fico P#$%%% da vida quando falam mal dos dentistas anteriores e fico mais ainda quando é um colega…sabe como foram as condições de atendimento do colega???
E mesmo se soubessem, pq falar mal do outro?..vai atirar a pedra no seu telhado que já esta de bom tamanho affffffff
Parabéns!!
bjs
>No meu post relatei o caso de uma paciente que possui plano odontológico empresarial. Ela procurou o atendimento de emergência oferecido pelo convênio, mas a secretária a informou que, naquele dia, não havia atendimento de emergência (hein?). Quando ela compareceu ao meu consultório, ofereci de fazer a intervenção na hora, mas ela por conta do trabalho preferiu agendar para segunda-feira. No mesmo dia que ela veio para agendar a consulta e procurou a emergência do convênio, esteve no Hospital de Emergência da cidade, que disponibiliza atendimento odontológico e é referência em atendimento para municípios vizinhos. De acordo com o relato da paciente, o colega somente secou o dente e o manteve aberto (o que já estava). O elemento já tinha passado por um acesso e o curativo caiu.
Não concordei com a conduta de superdosagem de medicamentos, incluindo antibioticoterapia, sendo que não havia edema. Eu sempre prescrevo medicação para o paciente que passa por um atendimento de emergência. Se fiz acesso, tem receita junto e orientações. Mas eu restrinjo os casos de prescrição de medicamento quando, ao acessar o elemento, houve drenagem de coleção purulenta via canal radicular, quando há fístula ou flegmão. Só! Caso contrário, antiinflamatório associado a analgésicos (em caso de dor ou febre) resolvem o problema.
Acho que por banalizarem o uso de antibióticos é que a Penicilina perdeu seu posto de antibiótico de escolha. Cada vez mais temos que recorrer a medicamentos "mais potentes", por erros que vem do passado. Tb trabalhei em PSF e sei que a comunidade tem como cultura o consumo indiscriminado de medicamentos. E ai de quem não oferece né? Mas a paciente em questão tinha um padrão socio-economico diferenciado, boa higiene oral.
Cada um na sua realidade mas, como dito brilhantemente no posto, focando na solução do problema do paciente.
Outra coisa: essa paciente não solicitou atestado em nenhuma das consultas. É assídua, chega sempre antes do horário.
Gostei muito do debate ontem no TT!
Várias cabeças pensando junto é conhecimento que se espalha!