O Ministério da Saúde, em conjunto com o Ministério da Educação, acabam de anunciar um programa de investimento em clínicas das faculdades de Odontologia de todo o país. A ideia é que elas passem a atenter pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Até o fim do ano, espera-se que 15 instituições tenham entrado no projeto, chamado GraduaCEO.
O investimento inicial é de R$ 29,4 milhões, o que garante a implantação de 30 clínicas. Para participar, as faculdades precisam apresentar um projeto, e as escolhidas receberão um incentivo de implantação de R$ 80 mil, além de um custeio mensal variável entre R$ 25,2 mil e R$ 103,3 mil mensais.
Segundo Gilberto Pucca, coordenador nacional de saúde bucal do Ministério da Saúde, o programa visa “além de oferecer mais atendimento odontológico à população, ajudar os estudantes a terem mais contato com os procedimentos mais comuns na população brasileira, como prevenção de cárie e restaurações de baixa complexidade”. Os alunos atenderão com supervisão de professores, como já ocorre. A previsão é de 40 mil atendimentos adicionais, entre atenção básica, cirurgia, endodontia, diagnóstico bucal, periodontia, ortodontia e implantes.
Bom… parcerias municipais em que há repasse de verba do SUS a clínicas odontológicas universitárias já são uma realidade. Na UFPR, na época da minha graduação, isso já acontecia. Mas acho que essa “oficialização” merece algumas considerações com relação aos benefícios que ela trará.
A população será atendida, sim, mas por acadêmicos, e não por dentistas. Claro que haverá supervisão, mas por que não contratar mais dentistas – formados – pra atuar no serviço público? Que tal se essa verba fosse investida em planos de carreira para os profissionais de saúde do SUS? Se considerarmos que atualmente as faculdades já atendem a população, esse programa não seria apenas um estímulo para a criação de mais faculdades de Odontologia de forma a desonerar as folhas de pagamento já que aluno não recebe salário?
Ou não…
Seria essa a oportunidade para aumentar o número de atendimentos pelas Universidades – e o repasse de verbas pra isso – já que hoje esse número é muito baixo e tem pouco impacto no total de atendimentos do SUS? Seria uma forma de cultivar o interesse do acadêmico de Odontologia pelo atendimento no serviço público? Os dentistas especializandos teriam a oportunidade de trabalhar e aprender nos CEOs, por exemplo? Aumentar-se-á o número de atendimentos à população carente e é isso que realmente importa?
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Via: Terra
Para que haja um aumento de atendimento, haveria a necessidade de uma reforma curricular com aumento da carga horária de cada disciplina, ou da clínica integrada. Como aumentar o atendimento sem mexer nisso? Todos os atendimentos na UFPR são via SUS, e o repasse é muito baixo, por exemplo, o SUS paga R$1,75 por uma radiografia peri-apical, um valor que não paga nem a película utilizada, paga R$1,24 por sextante raspado subgengivalmente na Periodontia, se a raspagem for apenas supra, o SUS não paga nada. O repasse é irrisório. Talvez em vez de aumentar o número de procedimentos, o que vai gerar uma disputa na Universidades pelo quem faz mais, para gerar maior receita, o SUS deveria repensar e reajustar sua tabela, e assim o paciente que busca atendimento público continue sendo atendido como pessoa, e não como uma meta, um número a ser alcançado para gerar uma receita X na institução. Vejo essa ação com muitas ressalvas, com receio que o atendimento seja ainda mais sucateado.
Quem tiver interesse em ver quais os procedimentos e quanto o SUS repassa, basta acessar http://bit.ly/X4Ee18