Depois que a Diva Marjorie Lanzarin foi convidada para ser ortodontista de defunto, achei pertinente abordar aqui no blog um assunto que é novidade, principalmente aqui no Brasil: autópsia virtual. Tive uma excelente aula sobre o assunto na especialização em Radiologia Odontológica e Imaginologia (que encerro neste mês \o/), e gostaria de compartilhar um pouco do que eu aprendi. Além disso, muito tem se falado sobre o tema depois que os corpos de 3 membros da família imperial brasileira – Dom Pedro I, sua primeira esposa, Dona Leopoldina e a segunda esposa, Dona Amélia – foram exumados e submetidos a análises físicas, químicas e a exames de imagem na Faculdade de Medicina da USP.

Exumação dos corpos dos membros da família imperial do Brasil
Aí você deve estar pensando: mas o que é que dentista tem a ver com autópsia? Bom, se você está pensando nisso, é porque nunca assistiu CSI :D. O interesse desse tipo de autópsia (e da convencional, também) está na identificação de corpos, através de registros clínicos, radiográficos e fotográficos, fazendo-se uma comparação ante e post mortem (Projeto iDent-X). Para isso, exige-se 2 odontolegistas que farão seus relatórios buscando concordância entre os dados encontrados. Essas informações são cadastradas no Plass Data, que é o sistema oficial da Interpol pra inserção desse tipo de dados. A partir daí, busca-se identificar o morto. Isso tudo só está disponível em alguns países da Europa, por enquanto.
E como é feito? Basicamente, o corpo é submetido a exames de imagem e reconstruído em 3D. A ressonância magnética reconstitui os tecidos moles e a tomografia, os tecidos duros. É usado, então, um scanner 3D pra associar o corpo com o conteúdo dele, que foi obtido por meio dos exames citados. Quando há a necessidade de coletar amostras, um braço robótico seleciona uma agulha cortante que remove a amostra do tecido que se deseja examinar… não há qualquer contato direto entre o médico/dentista legista e o cadáver.
Vantagens:
- 1 operador apenas
- Uso de fotogrametria + escaneamento de superfície
- O cadáver pode permanecer na bolsa
- Armazenamento em formato DICOM (padrão em Medicina)
- Transferência de dados facilitada
- Alta efetividade
Limitações:
- O software tem que diferenciar muito bem cores e texturas, e um software que faça isso custa MUITO caro.
- Não se obtém dados como sons e cheiros, algo que só um legista, de forma presencial, poderia obter. E, às vezes, essas informações são fundamentais.
A autópsia virtual surge como uma nova alternativa e uma boa opção na identificação de cadáveres carbonizados, putrefados e na antropologia forense. Muitas vezes a família do morto se opõe a uma autópsia convencional porque acredita que esse tipo de procedimento é um desrespeito à memória do seu ente querido. Dessa forma, a ideia da autópsia virtual é se fazer uma autópsia não-invasiva, objetiva, inovadora, tecnológica e detalhada.
Ah, prefere-se o termo autópsia a necrópsia, embora ambos possam ser usados. Essa preferência tem a ver com a origem dessas palavras… autópsia vem de autos = a si mesmo + opsomei = observar. Isso lembra o médico/dentista que realiza a autópsia que ele está “observando seu semelhante”, portanto todo respeito é exigido. Legal, né?! 🙂
Mais informações sobre o assunto:
Artigo: Virtual autopsy in forensic sciences and its applications in the forense odontology (de Ademir Franco et al., que foi quem me deu essa aula. Muito obrigada!)
[…] Preto da USP pode revolucionar o modo de identificação do sexo de múmias e cadáveres nos estudos forenses e arqueológicos. Atualmente, isso é realizado por meio de exames de DNA ou de análise óssea. […]
[…] Originalmente publicado no Blog OdontoDivas […]
Muito maneiro!
Fico imaginando, num tempo sem internet, quanto tempo eu demoraria pra ter informações tão boas como essas.
Bendita tecnologia =D