Um cirurgião bucomaxilofacial fez parte da equipe que removeu um mixoma de 2,5 quilos da mandíbula de uma menina brasileira de 3 anos, nos EUA. O cirurgião-dentista Celso Fernando Palmieri Jr. está há 10 anos em terras americanas e, ao saber do caso, fez de tudo para ajudar a menina a voltar a ter uma vida normal. Ele conta que curar uma brasileira com os recursos americanos trouxe satisfação e alegria, ainda mais estando bem longe do seu país.

Palmieri mora há quase dez anos nos EUA. Ele fez uma entrevista para trabalhar no Hospital LSU Health Shreveport. Aprovado, mudou-se com a esposa e os três filhos para Shreveport, no estado de Louisiana. Em 2016, ele conta que estava lendo notícias na Internet quando se deparou com o caso da menina Melyssa Delgado Braga, de Guarulhos.

Mixoma removido da mandíbula da Melyssa

Mixoma removido da mandíbula da Melyssa

Em 2014, quando Melyssa tinha 1 ano e 2 meses de idade, durante uma brincadeira com a filha, os pais perceberam que o pescoço dela estava com um nódulo. Após idas e vindas ao pronto-socorro do convênio, exames, tomografias e médicos especialistas, a mãe levou a filha na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, onde foi constatado o tumor. O problema aumentou muito, atingindo o lado esquerdo do seu rosto. Ela não conseguia fechar a boca porque o inchaço não permitia, passou a se chamar de feia e não queria receber visitas.

“Eu comecei a ler e ver que poderia ajudar a menina. Meu chefe tem bastante experiência com tumores grandes e raros. Mandei uma foto dela para ele e vi se poderíamos ajudar no tratamento. Ele falou que sim e me deu o ok para atender”, contou o dentista. A equipe que trabalha com Palmieri é composta por médicos e cirurgiões bucomaxilofaciais especialistas em tumores grandes em cabeça e pescoço, sob o comando do professor e presidente do Departamento de Cirurgia Oral e Maxilofacial do Centro de Ciências da Saúde Shreveport da LSU, Dr. G. E. Ghali.

Palmieri conseguiu localizar a família e pediu para que eles enviassem os exames para que o caso de Melyssa pudesse ser analisado. O tumor foi diagnosticado como um mixoma odontogênico. Além da cirurgia, o hospital ofereceu um apartamento para que a família se hospedasse durante todo o período em que Melyssa ficasse nos Estados Unidos.  Todo o tratamento oferecido pelo hospital custaria, aproximadamente, entre US$ 300 e 500 mil.

Melyssa viajou com os pais e um irmão no dia 9 de dezembro para os Estados Unidos. Uma grande campanha promovida pela família na Internet arrecadou R$ 80 mil para pagar o restante das despesas da viagem.  Nos Estados Unidos, a menina passou por uma série de exames e passou pela cirurgia no dia 20 de dezembro.

“Foi uma cirurgia de 8 a 10 horas para a retirada do tumor. Não teve nada muito diferente a não ser por ter sido de um tamanho grande. A proporção que ele tomou é que o tornou mais raro. O tumor estava começando a comprimir as vias aéreas”, explica ele.

De acordo com cirurgião, o tumor foi removido e parte da mandíbula também teve que ser retirada, onde foi colocada uma placa de titânio. “A menina vai crescer e, em algum momento, terá que trocar a placa e fazer uma cirurgia de reconstrução para fazer um enxerto ósseo”, afirma.

Após a cirurgia, Melyssa ficou internada no Hospital LSU. A menina ficou sob os cuidados médicos nos Estados Unidos até o fim de janeiro, quando retornou ao Brasil com os pais e com o rosto reconstituído. “É uma sensação de felicidade, gratidão e muito alívio. Foi a situação mais difícil que já vivemos. Agora, queremos aproveitar e viver a rotina que sempre sonhamos. Só queremos que ela seja feliz, tenha uma infância”, disse Caroline quando chegou no aeroporto de Guarulhos.

Segundo Palmieri, a cirurgia foi bem sucedida e o tumor foi retirado com uma margem de segurança. A menina pode ter uma vida normal e alguns cuidados para que não tenha quedas ou algum trauma na região da mandíbula.

Para ele, que continua nos Estados Unidos, a cirurgia poderia ser feita no Brasil porque há médicos cirurgiões e estruturas hospitalares preparadas para isso. Porém, poder realizar uma cirurgia deste porte e melhorar a vida de uma brasileira em terras americanas foi uma grande experiência.

A equipe e a família

A equipe e a família

“Foi muito gratificante. Por ter visto a cirurgia, ser o único brasileiro, poder ajudar uma família. O procedimento cirúrgico a gente faz todos os dias, mas a cirurgia em si foi uma oportunidade de participar de um caso diferente, especial e raro. E o principal é a sensação de ter participado da vida dessa menina de três anos. Você ver uma criança, uma família pedindo ajuda para o tratamento da filha, a gente se comove.  De repente, pequenas ações podem resultar em grandes coisas para as pessoas”, finaliza Palmieri.

Um pequeno (nem tanto) disclaimer…

Essa notícia saiu em vários portais, eu vi primeiramente no G1. Em todos os que eu vi, em nenhum momento se mencionou os termos “dentista”, “Odontologia” ou “cirurgião-dentista”. Deve haver alguma coisa errada, já que o Dr. Celso é dentista e cirurgião bucomaxilofacial.

A gente tá acostumado a ser chamado de médico… o problema não é esse. É que quando um leigo lê uma notícia assim, que não dá nome aos bois, não fica sabendo que quem fez a cirurgia foi um dentista. Perde-se uma ótima oportunidade de esclarecer a população quanto a área de atuação do cirurgião-dentista, que vai muito além dos dentes. Claro que ele não fez a cirurgia sozinho, teria que haver no mínimo um médico anestesiologista presente, mas quem fez a cirurgia foi um dentista, não um médico. E um dentista que saiu do Brasil já apto a fazer essa cirurgia, ele não aprendeu lá.

Aí uma moça apontou o erro nos comentários. Olha só a quantidade de “desjoinhas” que ela recebeu…

Comentário na matéria no G1

Comentário na matéria no G1

E não foram só os “desjoinhas”, mas um monte de comentários, alguns até agressivos, reprovando uma informação absolutamente correta e dada de forma educada. Sim, certamente o Dr. Celso teve que revalidar seu diploma, é uma exigência dos EUA pra trabalhar lá. Mas isso não muda o fato de que ele é dentista, independentemente dos trâmites legais que ele teve que cumprir. A Odontologia lá é como se fosse uma pós-graduação da Medicina, mas isso não quer dizer que ele teve que cursar Medicina lá pra atuar como dentista / cirurgião. Tem gente misturando as coisas.

É importante ressaltar, também (e o nosso colega fala isso na reportagem), que essa cirurgia poderia ter sido feita aqui no Brasil mesmo, afinal temos cirurgiões bucomaxilofaciais capacitados pra esse tipo de intervenção e infraestrutura também. A Melyssa só foi fazer a cirurgia fora do Brasil porque o Dr. Celso trabalha nos EUA e se comoveu com a situação, dispondo-se a realizar a remoção do mixoma. O texto do G1 dá a entender que ela TEVE que sair daqui pra ser tratada de acordo (aliás, até pra ser diagnosticada), o que não é verdade. E dá-lhe o pessoal distribuindo barbaridades nos comentários…

Em resumo: é a história de um dentista brasileiro, que trabalha nos EUA, e que se comoveu com a situação de uma menina brasileira, colocando-se a disposição pra ajudar. Parabéns ao Dr. Celso, e muita saúde pra Melyssa. 🙂

Via G1 (que não vai corrigir o texto NUNCA nessa vida)

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