Papai Noel, lê com carinho!

Querido Papai Noel!

Esse ano eu fui uma boa dentista. Em Janeiro suei a camisa, a calça, o jaleco, a máscara e o paciente suou o bigode no calorão do consultório no PSF. Tinha voltado de férias feliz e louca pra trabalhar, e cheguei a desidratar por atender mais de 15 pacientes por dia – que logo virou turno – pois o calor não me permitia atender adequadamente com o EPI. Acabei algumas vezes atendendo com jaleco curto e sem máscara em procedimentos mais simples. Sei que é errado, mas estava buscando um pouco de conforto pra mim e o meu paciente antes que meu suor facial pingasse nele.

Em Fevereiro tive alguns dias de folga no Carnaval. Conheci a cidade maravilhosa, O Jardim Botânico, o Parque Lage, andei no bondinho do Pão de Açúcar, conheci o Cristo e orei, além de ter dado fim à minha dieta. Tantos pães maravilhosos quentinhos nos brunchs que eu não resisti. Surgiu esse lindo blog rosa também, e eu estava radiante por poder falar sobre meu trabalho pro Brasil “ouvir”.

Em Março a especialização em Saúde Pública voltou com tudo e minha irmã iniciou a faculdade de direito na PUCRS. Voltei a me sentir a filha única, e meio que faltou um pedaço de mim. As idas a Porto Alegre a cada 15 dias ficaram mais intensas e cada vez menos consegui ver meus amigos que moram lá.

Em Abril creio que teve início a minha outra especialização, a em Saúde da Família. Aí comecei a conciliar os estudos com idas a Porto Alegre, trabalho de 40 horas no PSF e mais o consultório depois. Solteiríssima, conheci muitas amigas e saí bastante. As semanas era extremamente puxadas e no fim de semana era necessário “sair do corpo” pra relaxar a mente. Bebi pra caramba e fiz coisas que não devia. A essa altura, engordei quase tudo que tinha perdido pro verão.

Em Maio e Junho entrei numa crise financeira. Parei de fazer fazer personal e com gastos supérfluos. Foi bem difícil. Ao mesmo tempo, pra compensar o bolso tive um alívio no coração, pois meu caminho foi cruzado com o do Luiz, meu amor. Não sei quem foi que colocou ele no meu caminho, se foi o senhor que leu minha cartinha do ano passado, se foi meu desejo de ano novo ou se foi papai do céu que me viu triste e me mandou essa bênção.

Em Julho fez muito frio. Comecei a ter alguns problemas de saúde e fui buscar um médico. Ainda estou resolvendo os problemas de julho, as aulas das especializações me consumiam, a falta de exercício físico pesava, o bolso ia aliviando e o coração estava finalmente em paz, sentindo coisas que achava que não iria sentir novamente depois de tantas desilusões.

Em Agosto terminaram as aulas da especialização em Saúde Pública. O PET-Saúde começou a exigir ao mesmo tempo. Fiz a primeira viagem romântica com meu amor e comecei a me dedicar pra monografia. Como eu sempre vou pro lado mais difícil involuntariamente, a monografia não poderia ser simples. E o tempo começou a correr.

Em Setembro meu amor fez aniversário. O calor começou a voltar. A monografia tava no  prazo final. O consultório praticamente faliu com o furo que tive. Tudo isso ao mesmo tempo. Resolvi tomar algumas condutas no consultório e o movimento baixou. Fui pra Campinas terminar a monografia. Ufa, pelo menos isso passou.

Em Outubro e Novembro terminei de ajustar a monografia. Eu quis simplificar, e mesmo simplificando não consegui fazer de qualquer jeito. Deixei de ser uma boa filha, uma boa amiga, uma boa namorada pra viver a monografia. E terminando com ela, consegui voltar a ser praticamente tudo isso, em partes. Ainda restava colocar em dia as atividades da outra monografia e buscar os alunos do PET pra me ajudar no projeto e nas atividades das quais sou exigida caso eles não as façam. O calor tava piorando e parece que tudo no PSF resolveu dar tilt. Compressor fraco, baixa rotação que não funciona, alta que não sai água… e o principal, movimento aumentando. Todos meus pacientes sabiam que eu entraria em férias no mês seguinte, então estavam buscando finalizar os tratamentos. Não consegui mais deixar minhas postagens cor de rosa em dia. Era o stress todo acumulado e o inferno astral.

Dezembro, finalmente. Meu aniversário, formatura da especialização e as TÃO desejadas férias! Nos últimos dias de trabalho parecia que eu carregava uma tonelada nas costas de tão fraca que eu me sentia. Chegava em casa e chorava. Meu plano de saúde não ajudou, pois só consegui marcar médico particular. No PSF, nada mais funcionava. NADA! Completamente estressada, cada vez que aparecia um paciente pra fazer algum procedimento que eu não podia realizar por causa do mal funcionamento do equipamento. Me dava vontade de chorar cada vez que eu tinha que explicar pros pacientes o porquê de não poder realizar todos os procedimentos. No consultório, mudanças radicais no funcionamento. Não quero mais ter prejuízos no ano que vem. Mesmo meu equipamento de lá lindo e maravilhosamente funcionando bem, não adianta deixar funcionando. Se não conseguir um sócio, alguém pra colocar uma cadeira e dividir as despesas corretamente, vou tomar uma drástica decisão em março que vem: vou fechar.

Então Papai Noel, esse ano acho que eu fui uma boa dentista. O melhor de tudo apesar das dificuldades é que fico realizada quando trabalho no PSF. Sou uma dentista que trabalha por amor, mesmo nas adversidades. Peço apenas uma coisa nesse Natal: um AR CONDICIONADO POR FAVOR!!!!!! Tá bem difícil trabalhar com um equipamento que não funciona direito, mas pior que isso é não conseguir trabalhar por eu não funcionar direito.

Eu sei que o senhor tem muuuuuitas cartas e muitos pedidos, mas por favor, pensa com carinho em mim! Pra o meu bem estar e pra eu cuidar ainda melhor dos dentinhos das 8 mil pessoas da área de abrangência da ESF Lava Pés.

Atenciosamente,

Marjo Lanzarin – agora sanitatista – e DIVA do(no) SUS!

 

#goDIVAS! GO!

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