Era uma vez uma paciente que queria fazer uma prótese fixa de 6 elementos: 13, 12, 11, 21, 22 e 23. Por isso, procurou um curso de aperfeiçoamento em prótese de uma respeitada instituição. Após os exames clínico e radiográfico, ficou constatada a necessidade de endodontia do 13 e exodontia do 12, um dente em estado de raiz que não teria o comprimento necessário para sustentar um núcleo e uma coroa. O 11 já tinha endo e núcleo, tudo bem com ele.

A paciente achou por bem fazer esses tratamentos em outro local, pois ali era “muito caro”, na sua opinião. O dentista preparou, de próprio punho, um encaminhamento (onde constavam seu nome e telefone para dirimir quaisquer dúvidas) onde explicava cada detalhe do tratamento proposto, e pedindo que fosse realizada a endo do 13 e a exo do 12. No 11? Nada.

Tempos depois, a paciente reaparece para instalar os provisórios. O dentista estranha o edema em seu rosto. Ao fazer o exame clínico, lá está o 12… e o 11, que até então tinha núcleo, não o tem mais. O exame radiográfico constata o tratamento endodôntico do 13 e do 12 (aquele que segundo o plano de tratamento seria extraído) e, pasmem: a remoção do núcleo do 11, que havia passado, também por uma apicectomia, por isso o edema de face. Um dente que, até então, nunca tivera lesão periapical. O dentista pergunta:

A paciente explica: “O outro dentista disse que não precisava extrair o dente, que dava pra tratar o canal. O pino do outro ele falou que era melhor tirar e fazer um novo, e precisou fazer uma cirurgia pra cortar a ponta da raiz porque tinha algum problema lá. Ele falou também que se eu fizesse a ponte com eles, eles parcelariam em 12 vezes, coisa que vocês não fariam. Mas como eu já tinha combinado com vocês…” 

O professor do curso de aperfeiçoamento e o dentista explicaram para a senhora que não era bem assim, que a partir dali o tratamento era outro. Que o canal do 13 estava insatisfatório e que o 11, aquele que não precisava ser mexido, agora era caso para extração, pois a remoção do núcleo “arrombou” o canal, deixando 0,5 mm de parede no dente. Que o “melhor”, agora, era voltar no colega que “replanejou” o caso e pedir que ele arrumasse a bagunça.

A paciente rodou a baiana. “Como assim vocês não vão terminar o tratamento? Eu vou denunciar vocês! Eu vou pra TV! Eu vou ligar pro Papa! Eu vou chamar a polícia! Por que é que vocês mesmos não fizeram o tratamento inteiro então?” Cega pela raiva de ter sido enganada, ela não era nem capaz de perceber que tinha optado desde o começo por um serviço “mais barato”, e colhia os frutos da sua escolha. Que, a partir do momento que o tal colega interferiu no plano de tratamento acordado, ele assumiu pra si os riscos, consequências e a continuidade do tratamento. Que o “inimigo” era outro.

Agora, que pague (os pecados) em 12 vezes! Sem juros.

(ah, só pra constar: o colega que tentou desviar a paciente foi professor de graduação do dentista da história. E ainda dizem que ética se aprende na faculdade…)

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