Florianópolis é meu destino favorito no verão, e de muitas outras pessoas. Mas dependendo da região que você escolhe pra veranear precisa de um kit de primeiros socorros gigante pra dar conta de eventuais emergências, já que os postos de saúde, UPAs e hospitais não estão prontos pra atender o veranista em temporada de movimento intenso, como no Carnaval por exemplo. Esse texto é do meu namorado Paulo Resende e é um relato perfeito sobre a infra-estrutura precária que a saúde encontra-se em Santa Catarina no verão. Se tá assim agora, imagina na COPA…

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A Ilha da Magia #sqn

Florianópolis já foi sinônimo de praias paradisíacas, diversão, lazer e bons serviços. Hoje, a Ilha tem chamado a atenção pelo trânsito infernal, pela poluição, pela falta de água e de energia elétrica, e pelo descaso com a saúde dos turistas.

Estive nas praias do Norte da Ilha no final de 2013 e início de 2014 e dei sorte. Não faltou energia elétrica por muito tempo na praia de Ponta das Canas e o condomínio no qual aluguei um apartamento comprava água dos caminhões pipa diariamente. Segundo o síndico, o valor pago por um caminhão com 20mil litros de água, que normalmente custava cerca de R$ 600,00, chegava a custar R$ 1.800,00 no final do ano.

O presidente da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento, Dalírio Beber, em entrevista à jornalista Joice Bacelo, do Diário Catarinense (em 3.1.2014), apontou o excesso de turistas como causa do problema na falta de abastecimento de água. Abaixo, segue trecho da entrevista:

 

DC – Todo o ano, com a vinda dos turistas, sabe-se que a população vai triplicar. Ainda assim a Casan continua sendo surpreendida?

Beber – Não existe nada no mundo que você não resolva com dinheiro. Somente a morte, o resto se resolve. Resta saber se estes investimentos todos serão suportados pela população residente. Ou seja, se criarmos mecanismos para atender exclusivamente o período de pico, alguém vai ter que amortizar isso e hoje quem paga a conta é o usuário do sistema. Nós temos também que ter a compreensão de que nem sempre tivemos esse fluxo aqui, até mesmo com dificuldade do abastecimento de energia elétrica – que desequilibrou o sistema. O problema existe e nós temos que concentrar esforços em busca de soluções, para que sejam pelo menos minimizados.

DC – Quanto seria necessário para que o sistema de abastecimento funcionasse plenamente? 

Beber – Não tenho bola de cristal para te dizer o que seria necessário de recursos para resolver o problema. Nós temos hoje um estudo de concepção para captar água do Rio Tijucas e trazer esta água para abastecer Florianópolis, especialmente o norte da Ilha. É uma previsão de R$ 295 milhões, já com uma adutora. Este é um número que temos hoje na mão.

Matéria disponível em http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/geral/noticia/2014/01/nao-adianta-dizer-que-vai-ter-solucao-imediata-diz-presidente-da-casan-sobre-falta-de-agua-4380229.html

A pergunta que deve ser respondida, portanto, é: A população residente no Norte da Ilha quer pagar a conta para que a CASAN esteja preparada para suprir o aumento do consumo de água, em época de temporada? Deixa eu consultar aqui a minha bola de cristal: NÃO! É óbvio que a população não quer pagar mais! Diz o presidente da Casan: “[…] alguém vai ter que amortizar isso […]”. Que tal o Governo do Estado? A Secretaria de Estado da Infraestrutura? A Secretaria de Estado do Planejamento? Ou então, que tal a Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte?

 

Falando em Secretaria de Estado, aqui vai um alô para a Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina: O estado de saúde dessa Secretaria vai de mal a pior.

Estive na Praia do Matadeiro, sul da Ilha, durante o carnaval desse ano. Essa praia tem acesso somente por trilha. São 10-15 minutos de caminhada a partir da Praia da Armação. O lugar é muito bonito, de natureza exuberante. Compensa cada passo na trilha carregado de bagagem. Porém, não foi a beleza da praia que me chamou a atenção nesse carnaval, mas o fato de os Postos de Saúde das praias do sul estarem “fechados para o feriadão”.

Acidentes acontecem o ano todo, no Carnaval… deixa eu consultar a minha bola de cristal… devem ocorrer em maior número. Seja pela combinação de álcool e direção, álcool e imprudência, álcool e banho de mar, ou por qualquer outra situação que não necessariamente envolva álcool, como pisar num prego enferrujado (que foi o caso do meu primo na última segunda-feira, dia 3), numa praia com acesso somente por trilha, acidentes podem ocorrer com maior probabilidade e dar feriadão para os funcionários do Posto de Saúde em época de temporada, quando o número de turistas é o dobro ou o triplo do número de residentes, não parece uma boa ideia. Os serviços de pronto-atendimento são mais do que necessários exatamente nessa época do ano.

Não bastando a falta do serviço próximo, a Unidade de Pronto Atendimento do Sul da Ilha não possuía a vacina anti-tetânica. Há! Parece piada! Mas não é.

A atendente chegou a dizer que não adiantava tomar a vacina, pois ela é preventiva e não faria efeito após o acidente, que meu primo “deveria ter tomado a vacina antes”. Eu tive que explicar para a distinta senhora que fazia o atendimento, que acidentes são acidentes exatamente por não ser possível prevê-los. Meu primo sofre do mesmo mal do presidente da CASAN, ele não tem bola de cristal. Enfim, fomos informados que era necessário um encaminhamento para irmos até o Hospital Nereu Ramos (em Florianópolis) e que deveríamos aguardar o cirurgião chegar. Aguarda, aguarda (40min), e meu primo é chamado. Para a minha surpresa, ele sai da sala sem papel nenhum na mão. Foi atendido por uma outra pessoa, que não o cirurgião, e foi informado de que não seria necessário o encaminhamento. Sequer olharam o pé dele.

Chegando ao Hospital, e após aguardar mais 30 minutos pelo “rapaz que preenche a ficha” voltar do almoço, e pela “moça que atende” também voltar do almoço (mais 30min), finalmente conseguimos sair de lá com meu primo devidamente vacinado. Os atendimentos até que não demoraram, mas a falta do “pronto atendimento” é impressionante e dá uma sensação de fragilidade e medo.

Moral da história: se você vai passar alguns dias entre dezembro e março em Florianópolis, seja no Sul ou no Norte, leve uma caixa d’água no reboque, certifique-se que todas as suas vacinas estejam em dia, evite caminhar de pés descalços e reze para não sofrer acidentes durante sua estadia. De preferência, passe na lojinha das bolas de cristal e compre uma antes de viajar!

 

Seria isso descaso na saúde, despreparo dos funcionários? Não sei. Mas a COPA tá aí.

#goDIVAS! GO!

 

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