Não sou Odontopediatra, mas atendo as crianças que permitem tratamento. A grande maioria, para minha alegriiiiiiia,  coopera comigo e o tratamento flui como esperado.

Mas e quando aparece uma criança (ou onça?) acompanhada de pais que dificultam o atendimento?

Mais uma da série “Aconteceu Aqui e Agora”…

Uma menina de 9 anos acompanhada de sua mãe. Na primeira consulta fiz todas as orientações, expliquei sobre as consultas, fiz uma atividade educativa com as duas e iniciei os procedimentos preventivos (evidenciação de placa, profilaxia e aplicação de flúor). Durante o exame clínico mostrei pra mãe a deficiência de escovação da menina. Enfatizei que a responsabilidade pela saúde bucal de criança é da mãe (coisa que ela não gostou de ouvir) e que a garotinha ainda não tem coordenação motora suficiente para que sua saúde bucal não seja monitorada pelos pais. Durante a evidenciação eu não sabia mais o que era dente e placa. Ficou tudo um “roxo” só e eu, com a sonda exploradora foi explicando o que era aquela massinha branca na superfície do dente (explicação dada para mãe e para menina). Terminamos a sessão e remarquei para dar início às restaurações.

Na semana seguinte a paciente retornou. Quando abriu a boca, a massa branca estava lá como se nunca tivesse sido removida. Mais uma vez orientei a mãe e fiz um apelo financeiro: “_ Sra., o convênio me paga somente 1 vez para realizar esse procedimento de profilaxia. Hoje vou refazê-lo, mas das próximas vezes que houver necessidade de repetir cobrarei da Sra.”

Gentilmente a mãe chamou a filha de “imbecil”.

A menina reapareceu 1 mês depois, por acaso hoje. A escovação melhorou muito, mas a menina tem um medo que não é dela.

_ Minha mãe disse que você vai arrancar todos os meus dentes e que tudo que você usa vai doer.

ÓTIMO DONA MÃE! A Sra acabou de afundar com o tratamento da sua filha!

Lógico que a garotinha não deixou que eu realizasse qualquer procedimento nela. Até do sugador ela reclamava. Não tem como atender uma criança assim sem ser um especialista nisso. Chamei a mãe e expliquei que a filha não permitia o tratamento e indiquei um profissional de confiança para dar continuidade ao tratamento.

Nesse instante a mãe segurou a filha pelo braço e bateu nela. Agressão gratuita dentro do consultório.

Não acho que nós, profissionais, devamos nos “meter” na conversa das mães com seus filhos. Cada mãe educa os filhos da maneira que acha melhor. Mas é revoltante. Provavelmente eu não serei a última dentista de quem a menina terá medo. Ela tem um medo que vem da mãe, não de mim ou de qualquer instrumento que eu use. Ela não conhece. Não há como temer o que não é conhecido.

Educar os pais para o tratamento odontológico dos filhos é fundamental para o sucesso da relação profissional/paciente. A criança precisa adquirir confiança em nós e os pais precisam entender que não podem passar pelas nossas orientações e devem saber que elas são indispensáveis para que os procedimentos sejam realizados da melhor maneira possível dentro desses 9m² de consultório. E sempre devemos esclarecer sobre a responsabilidade deles, pais, sobre a saúde geral da criança, de acordo com as leis vigentes no país.

Se os pais colaboram conosco, a criança colabora também.

O que não dá é para as consultas odontológicas virarem uma rinha, como a que eu presenciei há poucos minutos.

 

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