Temos dois assuntos a serem discutidos hoje: A primeira é uma propaganda que aquela empresa da caixa vermelha e filas enormes no CIOSP. Navegando pela internet, um colega se deparou com a seguinte propaganda:

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Prof. Dr. Mario Leonardo chora. Prof. Dr. Carlos Estrela tem crises de riso. E qualquer endodontista olha pra isso e chora em posição fetal. A MAIOR MENTIRA DA HISTÓRIA. Dente tratado endodonticamente NÃO TEM SENSIBILIDADE DENTINÁRIA. Se o seu tem, procure seu endodontista, pois tem algo errado. Um canal acessório, alguma falha no procedimento, e não se trata com creme dental. Todo dente que tem o canal tratado tem o nervo removido, vivo ou morto, e o dente passa a não ter nenhum tipo de sensibilidade (não vou nem procurar fonte pois qualquer aluno de graduação em Odontologia aprende isso no primeiro dia de aula de endo.) Essa é a premissa da endodontia.

Tratar o canal é remover a polpa, a cárie e os detritos (se houver) e depois de limpo e desinfectado, é obturado com um material inerte chamado guta percha. Depois que o canal é tratado, é feita a parte protética. Pode ser uma restauração, uma “peça”, uma coroa. Mas canal tratado não tem sensibilidade. Não sei se o webmaster da página não tinha essa informação, se a marca se equivocou, ou se houve má fé de quererem vender um produto que não vai atingir a expectativa. Vou ser Poliana e deixar essa dúvida no ar (apesar dos 12 problemas bucais serem apenas 4 repetidos com outras palavras até virarem 12).

A segunda estória veio de um dentista que postou a seguinte foto na Intenet:

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Vamos aos numerosos questionamentos à respeito:

“O Flúor faz engordar”

Em 2014 em um congresso em SP uma nutróloga apresentou um trabalho afirmando que “Segundo as pesquisas, o organismo de uma pessoa que retenha, diariamente, quantidades de flúor superiores a 2mg, ao chegar aos 40 anos, começa a apresentar problemas como artrite, escoliose, rugas e arteriosclerose. Por também competir com o iodo, ocupando seu lugar na tireoide, o flúor pode desencadear um quadro de hipotiroidismo, levando ao ganho de peso”.

SUPONDO que a pesquisa da doutora esteja certa, uma pessoa escova os dentes com 1,5g de creme dental. Um creme dental popular possui 1200 ppm (partes por milhão). O FDA (órgão de controle alimentar americano) aceita até 1500 ppm PARA EVITAR A FLUOROSE E NÃO O GANHO DE PESO. Entendendo que o paciente não faça a ingestão do creme dental, mas cuspa o excesso e muitas vezes até lave a boca depois, essa ingestão estaria muito longe de 2mg/dia, portanto essa teoria já cairia por terra. O creme dental SEM FLÚOR está indicado para crianças exatamente por não terem desenvolvido essa capacidade de cuspir sem ingestão. Mas a partir do momento que a escovação aconteça com a capacidade de não ingestão do produto, torna-se necessário acrescentar o Flúor, em menor quantidade, até a fase adulta. Além do mais, existem fluoretos na própria água mineral e em alimentos. Vamos cortar a água também?

“O Flúor induz ao hipotireoidismo”

Vamos a um texto do Prof. Jaime Cury, da UNICAMP:

“Embora Flúor e Iodo sejam elementos químicos do grupo dos halogêneos (grupo 17) eles tem propriedades totalmente distintas e como Focinho de Porco não deve ser confundido com Tomada Elétrica, eles não devem e não podem ser confundidos. Entretanto nas redes sociais há médicos, como autoridades, emitindo opiniões, sem nenhuma evidência, de associação entre flúor, iodo e problemas da tireoide. Isso tem gerado incerteza em alguns colegas da área odontológica quanto a segurança de uso de flúor no controle de cárie, principalmente a água fluoretada, alvo predileto dos ativistas contra flúor. Algumas chegam ao desespero:

“Ola Dr. Jaime Cury, primeiramente quero dizer que sou sua fã, e segundo que estou desesperada por meu tema de TCC ser muito complexo e não estou conseguindo achar artigos e livros suficiente pra me aprofundar na pesquisa , meu tema é a influencia do flúor na tireoide. Se pudesse me enviar link com artigos relacionados com meu tema, agradeço”.

Sobre esse tema foi publicado esse ano uma “bomba inglesa” cujo artigo concluiu que “flúor da água deve ser considerado um fator contribuinte do hipotireoidismo”. Essa “bomba inglesa” foi habilmente desmontada por especialistas da própria Inglaterra. O primeiro especialista (Dr Grimes, da Universidade de Oxford) mandou carta para a revista onde a bomba foi armada, questionando a publicação feita desde que estudos de associação não permitem concluir se há relação causa-efeito, isto é a conclusão da publicação não é válida! Outro grupo de especialistas, de London, Birmingham e Bristol, liderados pelo Dr. Newton, desmontou totalmente “o artefato bélico montado por Peckmana et al.” fazendo uma dura critica cientifica à publicação feita sobre a associação entre fluoretação da água e hipotireoidismo. Comecei essa postagem com um ditado popular “Não devemos confundir focinho de porco com tomada elétrica” e a termino com outra: “Roupa suja se lava em casa” e os Ingleses são bons nisso também!” 
Obviamente não podia faltar o senso de humor ácido (salgado) com o qual o Dr. Grimes terminou a carta dele:
“As conclusões do estudo de Peckman e cols são simplesmente não convincentes, e devem ser consideradas talvez com grande ceticismo [“be taken with a large pinch of (fluoridated) salt”].” 

Focinho de porco não é tomada

Focinho de porco não é tomada

“Inibe 62 enzimas”

62 eu não consegui contar, mas está mais do que claro que inibe a produção de enzimas glicolíticas microbianas, o que é a intenção, diminuir a quantidade de microbiota produtora de cáries, não é mesmo?

“N-Lauril Sulfato induz câncer”

Não consegui encontrar qualquer estudo que afirmasse positivamente esta sentença. Foram 3 horas de busca em buscadores nacionais e internacionais.

* * *

Dentistas, não dentistas e curiosos: prestem bastante atenção no que as empresas tentam vender para vocês. A Odontologia TEM que ser baseada em estudos. Não vamos voltar 200 anos nos estudos de tantos e tantos pesquisadores que corroboram o mesmo tema. Sejamos críticos: O que é mais fácil: Trabalhar com produtos já testados e aprovados pela ciência ou voltar ao empirismo e utilizar produtos fartamente negados pela ciência? Vamos voltar pra cúrcuma novamente? Fica a reflexão.

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