Mais uma vez falou-se sobre Odontologia no “Show Da Vida”.

Na reportagem exibida domingo, dia 9 de novembro, ficou evidenciada a falta de recursos e de acesso à Odontologia no nosso país.

Grande parte da população nunca foi ao dentista nem possui kits de higiene oral, mesmo o serviço sendo oferecido pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Aliás, muitas pessoas não sabem que tem direito ao tratamento odontológico na rede pública e, quando dão início, muitos pacientes não terminam os procedimentos.

odonto sus
A matéria mostrou também a utilização do consultório odontológico de uma determinada unidade de saúde como sala de repouso para os funcionários do posto. A justificativa foi que só acontecia atendimento no período da manhã naquele posto e que no período da tarde o consultório não era utilizado. E, também, a fila de espera para atendimento, onde pacientes agendados há mais de um ano não deram início ao tratamento odontológico.

Eu trabalhei em PSF e convivi com a realidade da Odontologia no sistema público de saúde.

Peço aos colegas que prestam serviços no SUS que se manifestem nesse post e relatem seu dia a dia e suas dificuldades, pois sabemos que as mídias sociais, atualmente, são excelentes instrumentos de debate, denúncia e compartilhamento de informações.

É muito difícil atender no SUS. Quando cheguei à unidade de saúde, percebi que a Odontologia que eu aprendi na faculdade não se aplicava àquela realidade. Faltavam materiais, os equipamentos eram antigos e muitos não funcionavam, o consultório não tinha ar condicionado, paredes mofadas, falta de auxiliares, deficiência de instrumental e uma demanda muito grande de gente esperando por tratamento.
Lembro que eu tinha que fazer uma lista com os materiais que eu precisava e que ela deveria ser entregue à gerente da unidade de saúde para que fosse encaminhado meu pedido para o centro odontológico. Como demorava pra que meu pedido chegasse ao CEO, eu mesma o levava e voltava com os materiais na Unidade de Saúde.

Eu trabalhei numa região bem populosa, composta por cinco microáreas, num bairro de Resende. A lista de espera para atendimento era grande e como o posto ficava no centro do bairro, os pacientes dos locais muito afastados não conseguiam vaga no agendamento.

Vendo a dificuldade da população, resolvi abrir 20 vagas por área para atendimento. Num caderno eu anotava o nome dos 20 pacientes de cada área, totalizando 100 agendamentos, e para acelerar a resolução do problema bucal das pessoas, eu entrei em acordo com a equipe e ficava 100% do meu tempo dentro do consultório. Como era no esquema de PSF, eu pedi que as agentes comunitárias da unidade me avisassem sobre os pacientes acamados que precisavam de atendimento domiciliar para atendimento de urgência. E, também, avisei nas escolas que os trabalhos estariam suspensos até que a demanda fosse atendida. Sei que deixei de cumprir com minha “função” no PSF, mas eu não conseguia me imaginar fora do consultório, fazendo visita e oferecendo palestra nas escolas enquanto tinham pacientes com dor e muitos outros à espera de tratamento há anos.

No fim, em dois anos nessa Unidade, eu consegui dar conta da população. Esse agendamento segmentado proporcionou o acesso da Odontologia a todos os moradores e eu consegui fazer mais agendamentos por ano, pois a cada micro área terminada uma nova marcação era iniciada. A fila “andou”, os pacientes não tinham que dormir na fila e eu senti que as coisas melhoraram na Unidade de saúde.
O que ficou bem claro pra mim na reportagem de ontem é que não há investimento suficiente na Odontologia no SUS. Os profissionais são mal remunerados, poucos são os municípios que preenchem o quadro de profissionais para atendimento da população e que nem todos os consultórios contam com a estrutura exigida para atendimento.

Cabe aos nossos colegas relatar os problemas e encaminhar as dificuldades às Secretarias de Saúde bem como ao Ministério da Saúde, para que as medidas necessárias sejam tomadas.

E você, COLEGA, qual a sua realidade no consultório público?

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