Hoje é dia de Patologia! Vamos relembrar alguns conceitos lá da graduação.
Segundo Neville, o termo Granuloma Periapical refere-se a uma massa de tecido de granulação crônica ou agudamente inflamado no ápice de um dente desvitalizado. No entanto, ele mesmo diz que o termo não é histologicamente correto, pois não apresenta uma inflamação granulomatosa verdadeira. Para ele, o termo correto seria periodontite apical, porém causaria muita confusão para um clínico. A formação de lesões inflamatórias periapicais representa uma reação defensiva secundária à presença de infecção bacteriana no canal radicular, com a disseminação de produtos tóxicos relacionados em direção apical.
Então, coloquialmente falando: o granuloma é uma reação de defesa do organismo a uma infecção aguda.
Na primeira fase o organismo tenta evitar a sua disseminação revestindo o exsudato, para ele não ir para a corrente sanguínea, formando uma camada de epitélio em volta dele. Quando, porém, a infecção não é tratada, o corpo não consegue debelar… as bactérias tornam-se resistentes às células de defesa e a periodontite apical cresce a ponto de se tornar um abscesso.
Por que tratar o canal?
O tratamento endodôntico vem para remover a causa do problema, que é a necrose radicular, porém o tecido periodontal e ósseo podem permanecer com algum tipo de contaminação. Como o granuloma é composto por macrófagos, células epitelioides, células gigantes e cercado por linfócitos T e, em alguns casos, por plasmócitos também, com o tempo alguns granulomas podem fazer a substituição de macrófagos por fibroblastos (células produtoras de colágeno) e aumentar progressivamente as fibras de colágeno, formando uma cápsula e deixando uma cicatriz. Conforme as células morrem elas se calcificam e aparecem radiograficamente.
Porém, em alguns casos a piora da infecção pulpar pode levar ao reaparecimento da inflamação, ao desenvolvimento de sintomas e ao possível aumento da área radiolúcida associada. Essas infecções são chamadas de abscesso fênix, nome dado baseado no pássaro mitológico que morria e renascia de suas próprias cinzas.
Que bom seria se o tratamento de canal esterilizasse o dente e tecidos adjacentes, não é mesmo? Porém isso não acontece. O tratamento endodôntico apenas diminui o numero de bactérias para um patamar tolerável pelo organismo.
E o que fazer para que o tratamento tenha êxito?
- Condições bucais favoráveis: Uma boa profilaxia e tratamento periodontal prévio ao tratamento aumentam as chances de uma descontaminação mais efetiva.
. - Cadeia asséptica: Materiais sempre estéreis e material de descontaminação adequados associados a uma técnica eficaz.
. - Restauração (protética ou não) eficiente: Deixar a restauração provisória por meses ou a falta de vedamento correto pode levar a falhas de tratamento, porém não associados ao tratamento endodôntico em si.
E a pergunta que não quer calar:
Granuloma é câncer?
NÃO.
Nem tem potencial de virar um. Um dente sem o tratamento adequado pode sofrer uma infecção aguda e pode acontecer dessa infecção levar bactérias pela corrente sanguínea, trazendo complicações para outros órgãos… um exemplo, a endocardite bacteriana. Mas granuloma não é carcinoma. O câncer vem de alterações genéticas celulares, o que não acontece em um granuloma.
Muito cuidado na hora de explicar para um paciente esses conceitos. Pode gerar confusões desnecessárias e pacientes mais resistentes ao tratamento.
Um abraço.
Com base em: NEVILLE, B. W. et al. Patologia Oral e Maxilofacial. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. Para a fonte das imagens, clique nelas.
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